MAÇONARIA ETERNO APRENDIZ

Ser ou estar M.'., não é apenas ter o conhecimento de sinais, toques e palavras. É muito mais que isto. É poder aplicar o seu conhecimento em busca da verdade que nós leva, sermos melhores a cada dia. É entendermos e aplicarmos os propósitos maçônicos, seus valores morais e éticos. É sabermos de como melhor servirmos ao próximo. QUE O DEUS DE SEU CORAÇÃO LHES CONCEDA LUZ, SABEDORIA E PROSPERIDADE. A TODOS PAZ PROFUNDA .'.
EM P,', e a O.'.
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QUEREMOS APENAS AJUDAR .


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Obs: para julgar é preciso primeiramente conhecer. Somos todos Irmãos .'.







quinta-feira, 23 de maio de 2019

.'. A CORDA DE OITENTA E UM NÓS .'.

A corda de oitenta e um nós

Iniciaremos a nossa pesquisa neste dia, exortando que a Maçonaria é uma Instituição filosófica, filantrópica dotada de um esoterismo místico e uma natural simbologia que nos conduzem a uma reflexão profunda através de simples utensílios profanos. Dessa feita atribuir um significado próprio aos símbolos é de sublime importância para os aprendizes, pois é neles que nos apoiamos e com eles que trabalhamos.
A humanidade em geral aprendeu e evoluiu consoante a utilização de símbolos que hoje são utilizados certamente em todas as áreas do conhecimento. Até mesmo na dicção de uma simples palavra, que por uma convenção arbitrária atribuímos às letras, palavras e idiomas sons distintos, sujeitos a uma determinada interpretação. Na vida maçónica esta regra ocupa um lugar de destaque, senão vejamos, assim que entramos no Templo os nossos olhos são guiados espontaneamente para todos os símbolos presentes e dispostos harmoniosamente. De modo a obter um profícuo esclarecimento, busquemos o início, o significado da própria palavra símbolo.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira – “Símbolo”. [Do gr. Symbolon, pelo lat. Symbolu] S. m.
  1. Aquilo que por um princípio de analogia representa ou substitui outra coisa;
  2. Aquilo que pela sua forma e natureza evoca, representa e substitui, num determinado contexto, algo abstracto ou ausente;
  3. Aquilo que tem valor evocativo, mágico ou místico;
  4. Objecto material que, por convenção arbitrária, representa ou designa uma realidade complexa…”
Assim a “corda de oitenta e um nós” é um símbolo presente nos Templos maçónicos, e é encontrada no alto das paredes, junto ao tecto e acima das colunas Zodiacais, conforme instituído no R∴E∴A∴A∴. A corda será preferencialmente de sisal, a sua disposição inicia-se com a colocação e a observação do “nó” central dessa corda que deve estar por cima do Trono de Salomão (cadeira do V∴M∴) e acima do dossel, se ele for baixo; ou abaixo dele e acima do Delta, se o dossel for alto. A sua significação representa o número UM, unidade, indivisibilidade, sagrando-se por representar ainda o Criador, princípio e fundamento do Universo. Desta forma a corda conta ainda com quarenta “nós”, equidistantes, de cada lado que se estendem pelo Norte e pelo Sul; os extremos da corda terminam, em ambos os lados da porta ocidental de entrada, em duas borlas, representando a Justiça (ou Equidade) e a Prudência (ou Moderação). Existem Templos em França que apresentam cordas com doze “nós” representando os signos do Zodíaco.
Alguns exegetas afirmam que a abertura da corda, em torno da porta de entrada do templo, com a formação das borlas, simboliza o facto de a Maçonaria estar sempre aberta para acolher novos membros, novos candidatos que desejem receber a Luz Maçónica. A interpretação, segundo a maioria dos pesquisadores, é de que essa abertura significa que a Ordem Maçónica é dinâmica e progressista, estando, portanto, sempre aberta às novas ideias, que possam contribuir para a evolução do Homem e para o progresso racional da humanidade, já que não pode ser Maçon aquele que rejeita as ideias novas, em benefício de um conservadorismo rançoso, muitas vezes dogmático e, por isso mesmo, altamente deletério.
Na busca do significado esperado, remontemos no tempo… na Grécia antiga os cabelos longos das mulheres eram usados para fazerem as cordas necessárias para a utilização na defesa das cidades. Já os agrimensores egípcios usavam a cordas com “nós” para declinarem os terrenos a serem edificados, sendo que os “nós” marcavam os pontos específicos das construções, onde deveriam ser necessárias aplicações de travas, colunas, encaixes, representando, portanto, os pontos de sustentação.
Também foi utilizada, na Idade Média, como instrumento para medir e demonstrar dimensões e proporções da cúpula que se desejava construir através da sombra sabiamente provocada por uma luz. Incontestavelmente ela é um elemento que pode ser composto pelos mais diferentes materiais e que tem a finalidade de prender, separar, demarcar ou no nosso caso “unir”. A sua origem mais remota parece estar nos antigos canteiros trabalhadores em cantaria, ou seja, no esquadrejamento da pedra informe medieval, que cercava o seu local de trabalho com estacas, às quais eram presos anéis de ferro, que, por sua vez se ligavam, uns aos outros, através de elos, havendo uma abertura apenas na entrada do local.
Uma das possíveis origens da “corda de 81 nós”, ocorre quando em 23 de Agosto de 1773, por ocasião da palavra semestral em cadeia da união na casa “Folie-Titon” em Paris, tomava posse Louis Phillipe de Orleans, como Grão-Mestre da Ordem Maçónica, na França, onde estavam presentes 81 irmãos em união fraterna, e a decoração da abóbada celeste apresentava 81 estrelas.
Encontramos ainda na Sociedade dos Construtores (Maçonaria Operativa), que foi o embrião na Maçonaria como conhecemos hoje, a herança da “corda” que era desenhada no chão com giz ou carvão, fazendo alegoricamente parte de um Painel representativo dos instrumentos utilizados pelos Pedreiros Livres. Agora nas reuniões maçónicas, seguindo o ritual, é pedido ao Irmão Guarda do Templo que verifique se o Templo está “coberto” na sua parte externa, das indiscrições profanas, somente se iniciando os trabalhos após a sua confirmação. Seguindo a isto a protectora Corda Maçónica saiu do chão e elevou-se aos tectos dos Templos, significando a elevação espiritual dos Irmãos, que deixaram de trabalhar no chão com o cimento e passaram a trabalhar no plano superior com o cimento místico que é a argamassa da Espiritualidade. Esta corda é que nos oferece protecção através da irradiação de energias pela “Emanação Fluídica” que abriga e sustenta a “Egrégora” (corpo místico) formada durante os trabalhos em Templo através da concentração mental dos Irmãos, evitando que ondas de energia negativa desçam sobre os presentes na reunião. As borlas separadas na entrada do Templo funcionam como captores da energia pesada dos Irmãos que entram, devolvendo-lhes esta energia sob forma leve e subtil quando da sua saída.
A estrutura dos “nós” (mais bem denominados “laços”) representa o símbolo do infinito – ∞ – e a da perpetuação da espécie, simbolizando na penetração macho / fêmea, determinando que a obra da renovação é duradoura e infinita. Este é um dos motivos pelos quais os laços são chamados “Laços de Amor”, por demonstrar a dinâmica Universal do Amor na continuidade da vida. Os átomos detêm toda a sabedoria do Mundo, porque ele gera e cria novas propostas para a evolução humana. A Corda de 81 laços representa a laçada como um “8” deitado, lembrando ao Maçon que é preciso tomar muito cuidado para não a puxar transformando-a em nó o que significaria a interrupção e o estrangulamento da fraternidade que deve existir entre os Irmãos. Os 81 laços são apresentados nos Templos Escoceses do Brasil e Paraguai.
Depois de analisada a natureza dos símbolos, a disposição simbólica da “corda de oitenta e um laços” no Templo, assim como a sua origem nesta sublime Instituição passemos a uma retida análise consoante ao número 81, representado através dos laços equidistantes. Vejamos: Esotericamente, a “corda de oitenta e um laços” simboliza a união fraternal e espiritual, que deve existir, entre todos os Maçons do mundo; representa também a comunhão de ideias e objectivos da Maçonaria, que evidentemente, devem ser os mesmos, em qualquer parte do planeta.
“Para que um símbolo se torne de facto um símbolo são necessárias várias interpretações, justificativas e significados” já ensinavam carinhosamente os “velhinhos” da A∴R∴L∴S∴“Barão de Ramalho”, e é desta forma que a máxima se justifica, uma vez que mais uma vez encontramos várias teorias acerca do tema proposto.
Nesse contexto, inicialmente abstrair-nos-emos do laço central que é a representação G∴A∴D∴U∴ entre seu passado e o seu futuro, representa o número um, a unidade indivisível, o símbolo de Deus, princípio e fundamento do Universo; o número um, desta maneira, é considerado um número sagrado. Deste modo, passemos às laterais com 40 laços, e lembramos que este número marca a realização de um ciclo que leva a mudanças radicais. A Quaresma dura 40 dias. Ainda hoje temos o hábito medicinal de colocar pessoas ou locais sob “quarentena” como se nela estivesse a purificação dos males antes existentes. Jesus levou 40 dias em jejum e tentações. Os Hebreus vagaram 40 anos no deserto. Quarenta foram os dias que durou o dilúvio (Génese, 7-4). Quarenta dias passou Moisés no monte Horeb, no Sinai (Êxodo, 34-28). Os 40 laços representam os 40 dias que Jesus usou para se preparar para a morte terrestre e os 40 dias que ficou entre nós após a ressurreição, preparando-se para a Eternidade.
Seguidamente analisemos as justificações simbólicas no próprio número 81 que segue os princípios místicos da Cabala, senão vejamos: o número 81 é o quadrado de 9, que, por sua vez, é o quadrado de 3, número Perfeito, bastante estudado em Escolas Esotéricas e de alto valor místico, para todas as antigas civilizações; Três eram os filhos de Noé; Três os varões que apareceram a Abraão; Três os dias de jejum dos judeus desterrados; Três as negações de Pedro; Três as virtudes teologais (Fé, Esperança e Amor). Além disso, as tríades divinas sempre existiram, em todas as religiões: Shamash, Sin e Ichtar, dos Sumérios – Osíris, Isis, Horús, dos Egípcios – Brahma, Vishnu e Siva, dos Hindus – Yang, Ying e Tao, do Taoismo – Pai; Filho e Espírito Santo, da Trindade Cristã. Também não poderíamos deixar de citar a tríplice argamassa das oficinas Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
De realçar ainda que os comportamentos humanos têm valores numéricos, de acordo com as letras de seus nomes. As letras são divididas em três grupos de 9 letras, cada letra com 3 chaves, a saber: o valor numérico que lhe é próprio; o som que lhe é próprio; e a figura que a caracteriza. Como temos nove variações comportamentais segundo a Psicologia, teremos 81 variações de comportamento. Podemos então dizer num estudo livre, que esta corda mostra também os 81 comportamentos que uma pessoa pode ter numa existência, sendo então a representação do indivíduo e suas mudanças humorais.
No ritual do Grau 20 do Supremo Conselho do Grau 33 do Paraná encontramos uma explicação para os 81 laços; na página 35, ao perguntar-se o porquê dos 81 laços, responde-se que Hiram Abiff tinha 81 anos quando foi assassinado. Também encontramos no Artigo II da Constituição dos Princípios do Real Segredo para os Orientes de Paris e Berlim, edição de 1762; para se chegar ao Grau 25, naquela época, eram necessários 81 meses de actividades maçónicas. A Cosmogonia dos Druidas, resumidas nas Tríades dos Bardos antigos, eram em número de 81 (as Tríades) e os três círculos fundamentais de que trata esta doutrina, tem como valor numérico o 9, o 27 e o 81, todos múltiplos de 3. Ragon, no seu livro “A Maçonaria Hermética”, no rodapé da página 37, diz numa nota, que segundo o Escocês Trinitário, o 81 é o número misterioso de adoração dos anjos. Assim, segundo Oswaldo Ortega, da Loja Guartimozim de São Paulo, à luz do Esoterismo, ele cita que os 81 laços que estão no tecto, portanto, próximos do céu, tem ligação com os 81 anjos que visitam diariamente a Terra, com mostram as Clavículas de Salomão, e se baseiam nos 72 pontos existenciais (os 72 nomes de Deus), da Cabala Hebraica modificada. A cada 20 minutos, um anjo desce à Terra e dá a sua mensagem aos homens. São 72 visitas no curso do dia, se levarmos em conta que a cada hora teremos 3 anjos, em 24 horas, teremos 72 anjos. Agora, somando 72 anjos aos nove planetas que nos influenciam diariamente chegamos ao número 81. Sabemos que estes anjos podem nos ajudar se os chamarmos pelos nomes no espaço de tempo que nos visitam. E eles estão representados no tecto do Templo, através dos 81 laços.
Terminando, encontramos ainda outra denominação à “corda”, ou seja, “Borda Dentada”, traduzida pela corda de nós (laços de amor) que rodeia o “Quadro de Aprendiz” (3 ou 7 laços), assim como o “Quadro de Companheiro” (5 ou 9 laços) terminada com uma borla em cada extremidade e que per si mereceria um estudo próprio. Não obstante o explicitado, a lição primordial que nos resta é que a corda é a imagem da união fraterna que liga, por uma cadeia indissolúvel, todos os Maçons, simbolizando o segredo que deve rodear os nossos augustos mistérios, assim como representa a Cadeia de União permanente pela busca da proclamada Fraternidade, tão bem explicitada no Salmo 133.
“Os deuses não concedem nunca aos mortais qualquer bem autêntico, sem esforço e sem uma luta séria para obter”
Sócrates
Fabrício J. Machado

Bibliografia

  • CASTELLANI, José. “O Rito Escocês Antigo e Aceito – História, Doutrina e Prática”. 2. Ed. São Paulo: A Trolha, 1995.
  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”. 2. ed. 30. Impr. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira

terça-feira, 21 de maio de 2019

A Alma e a Gente - III #10 - O Milagre de Arouca - 12 Mar 2005

A simpática e bela Vila de Arouca 03(Programa Assim é Portugal Oficial)

Saudades , Belo lugar .

Inquisição portuguesa .'.

A maçonaria e a inquisição portuguesa: perseguição ao Maçom Hipólito José da Costa

Antecedentes históricos

A inquisição Portuguesa no Final do Século XIX

inquisiçãoA partir da nomeação de Sebastião José de Carvalho e Mello, marquês de Pombal, para o cargo de ministro de D. José I, em meados do séc. XVIII, a Inquisição foi mantida como mero braço da coroa, para que a esta servisse sem a interferência de Roma. O irmão de Pombal, Paulo de Carvalho, foi nomeado inquisidor-mor e, por alvará de 1769, declarou a Inquisição “tribunal régio”. O último Regimento da Inquisição portuguesa foi o de 1774, que acabou com os “autos-de-fé” , aboliu a tortura e a pena de morte, apesar de prever excepções, sendo tido até hoje , guardadas as proporções históricas, como um modelo escorreito de execução penal. No início do séc. XIX, os ideais libertários, a ascensão da burguesia e até a expansão da franco-maçonaria, com a sua pregação racionalista e ateísta, foram transformando a Inquisição portuguesa em instituição anacrónica, sendo ela extinta, a final, em sessão de 31 de Março de 1821, pelas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa.
O condenado era muitas vezes responsabilizado por uma “crise da fé”, pestes, terremotos, doenças e miséria social, sendo entregue às autoridades do Estado, para que fosse punido. As penas variavam desde confisco de bens e perda de liberdade, até a pena de morte, muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena. Os tribunais da Inquisição não eram permanentes, sendo instalados quando surgia algum caso de heresia e eram depois desfeitos. Posteriormente tribunais religiosos e outros métodos judiciários de combate à heresia seriam utilizados pelas igrejas protestantes (como por exemplo, na Alemanha e Inglaterra). Embora nos países de maioria protestante também tenha havido perseguições – neste caso contra católicos, contra reformadores radicais, como os anabaptistas, e contra supostos praticantes de bruxaria, os tribunais constituíam-se no marco do poder real ou local, geralmente ad-hoc , e não como uma instituição específica. O delator que apontava o “herege” para a comunidade, muitas vezes garantia a sua fé e status perante a sociedade. A caça às bruxas não foi perpetrada pela Inquisição, mas sim por Estados e tribunais civis independentes, sem reais ligações com a Inquisição. Ao contrário do que é comum pensar, o tribunal do Santo Ofício era uma entidade jurídica e não tinha forma de executar as penas. O resultado da inquisição feita a um réu era entregue ao poder secular. A instalação destes tribunais era muito comum na Europa a pedido dos poderes régios, pois queriam evitar condenações por mão popular.

Efervescência na Política Portuguesa em Maio de 1817

O ano de 1817 seria agitadíssimo para a Maçonaria Portuguesa, devido à efervescência política. Em Maio de 1817, a Polícia de Lisboa apreendeu numa casa do pátio da Galega, à Rua Boa Vista, onde funcionava uma Loja, mobiliário ritualístico, colunas com as letras B e J, pirâmides, balaustradas, panos pretos, triângulos e outros objectos. Os movimentos políticos estavam em preparação, contra a regência de Beresford [1] e pelo estabelecimento de uma Monarquia Constitucional, ou mesmo de uma República.
Diante da transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821), Portugal continental viu-se invadido pelas tropas napoleónicas. Embora batidas com o auxílio de tropas britânicas, o país viu-se na dupla condição de colónia brasileira e protectorado britânico. A assinatura do Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, que na prática significou o fim do chamado “pacto colonial” e, posteriormente, dos Tratados de 1810, garantindo privilégios alfandegários aos produtos britânicos nas alfândegas portuguesas, mergulhou o comércio de cidades como o Porto e Lisboa numa profunda crise, de que se ressentia a sua classe burguesa. O controle britânico das forças militares também acarretava profundo mal-estar entre a oficialidade do Exército Português.

A Conspiração de Lisboa (1817)

Libertado Portugal da ocupação das tropas francesas, e após a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte (1815), formou-se em Lisboa o “Supremo Conselho Regenerador de Portugal e do Algarve”, integrado por oficiais do Exército e Maçons, com o objectivo de expulsar os britânicos do controlo militar de Portugal, promovendo a “salvação da independência” da pátria.
Este movimento, liderado pelo General Gomes Freire de Andrade [2], durante o seu breve período de existência, esforçou-se no planeamento da introdução do liberalismo em Portugal, embora não tenha conseguido atingir os seus propósitos finais.
Denunciado em Maio de 1817, a sua repressão conduziu à prisão de muitos suspeitos, entre os quais o general Gomes Freire de Andrade, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano (1815-1817), acusado de líder da conspiração contra a monarquia de João VI de Portugal, em Portugal continental representada pela Regência, então sob o governo militar britânico de William Carr Beresford.
Em Outubro de 1817, o tribunal considerou culpados de traição à pátria e sentenciou à morte, por enforcamento, doze acusados. As execuções de José Ribeiro Pinto, do major José da Fonseca Neves, de Maximiano Dias Ribeiro (todos maçons), e de José Joaquim Pinto da Silva, do major José Campello de Miranda, do coronel Manuel Monteiro de Carvalho, de Henrique José Garcia de Moraes, de António Cabral Calheiros Furtado de Lemos, de Manuel Inácio de Figueiredo e Pedro Ricardo de Figueiró (possivelmente maçons), tiveram lugar no dia 18, no Campo de Santana (hoje Campo dos Mártires da Pátria). O general Gomes Freire de Andrade, foi executado na mesma data, no Forte de São Julião da Barra.
Este procedimento da Regência e de Lord Beresford, comandante em chefe britânico do Exército português e regente de facto do reino de Portugal, levou a protestos e intensificou a tendência antibritânica no país. Após o julgamento e execução dos acusados, o general Beresford deslocou-se ao Brasil para pedir ao soberano mais recursos e poderes para a repressão do “jacobinismo” [3]. Na sua ausência, eclodiria a Revolução do Porto (1820) de modo que, quando do seu regresso do Brasil naquele ano, onde conseguira do soberano os poderes pedidos, foi impedido de desembarcar em Lisboa.

Sinédrio

Enquanto isto, no Porto, o desembargador da Relação, Manuel Fernandes Tomás [4], fundou o chamado “Sinédrio”. Integrado por maçons, visava “afirmar” o Exército Português no país. Aproveitando a ausência de Beresford no Brasil, o Sinédrio cooptou militares que pudessem materializar o seu projecto revolucionário. O Sinédrio foi uma associação secreta criada em Portugal pelo juiz desembargador portuense Manuel Fernandes Tomás e por José Ferreira Borges, José da Silva Carvalho e J. Ferreira Viana, no Porto em 22 de Janeiro de 1818. O seu nome deriva de uma Organização homónima – o Supremo Tribunal judaico. A criação do Sinédrio dá-se após a Revolução falhada que se tentara em Lisboa pelo General Gomes Freire de Andrade, que visava o fim do domínio inglês sobre Portugal através da instauração de uma Monarquia Constitucional. A criação do Sinédrio é um dos sinais que antecederam a implantação do liberalismo em Portugal, e foi encorajado pela revolução espanhola de 9 de Março de 1820. Após a revolução liberal, que ocorreu na cidade do Porto a 24 de Agosto de 1820, e associação extinguiu-se, tendo alguns dos seus membros participado na Junta Provisional do Governo Superior do Reino, que iniciou o período do liberalismo em Portugal.

Hipólito José da Costa e a Inquisição Portuguesa

O Brasileiro mais famoso perseguido pela inquisição foi Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (Colónia do Sacramento, 13 de Agosto de 1774 – Londres, 11 de Setembro de 1823). Nascido na Colónia do Sacramento, então domínio da Coroa portuguesa (hoje pertencente ao Uruguai), Hipólito era filho de família abastada do Rio de Janeiro. Foi um jornalista, Maçom e diplomata brasileiro, patrono da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras.
Recém-formado, foi enviado como diplomata pela Coroa portuguesa aos Estados Unidos da América e ao México, para onde embarcou em 16 de Outubro de 1798, com a tarefa de conhecer a economia desses dois países e as novas técnicas industriais aplicadas pelos norte-americanos. Viveu nos Estados Unidos por dois anos onde, na Filadélfia, veio a ingressar na maçonaria o que influenciou a sua vida daí em diante. De volta ao reino, viajou a serviço da Coroa Portuguesa para Londres em 1802, com o objectivo declarado de adquirir obras para a Real Biblioteca e maquinário para a Imprensa Régia. Ocultamente, entretanto, os seus motivos eram o também de estabelecer contactos entre as Lojas Maçónicas Portuguesas e o Grande Oriente em Londres. Três ou quatro dias após o seu retorno ao reino foi detido pela Inquisição por ordem de Diogo Inácio de Pina Manique [5], sob a acusação de disseminar as ideias maçónicas na Europa.
Hipólito da Costa foi preso pela Inquisição lisboeta porque era Maçom (iniciado na Loja Washington, em Filadélfia, EUA). Também eram maçons ou simpatizantes da franco-maçonaria os principais rebeldes sul-americanos reunidos em Londres em torno da figura de El Precursor, o general venezuelano Francisco Miranda – que lutou contra os ingleses na Revolução Americana, contra o Antigo Regime na Revolução Francesa e contra Bonaparte na restauração espanhola. Simon Bolívar integrava o mesmo grupo.
A obstinada luta contra a Inquisição não foi uma vendeta pessoal de Hipólito da Costa contra os seus algozes, mas uma cruzada contra a ignorância, o atraso cultural e o fundamentalismo religioso. A Narrativa da Perseguição de Hipólito da Costa (dois volumes, português e inglês, Londres, 1811) não foi a primeira denúncia contra o Santo Ofício aparecida no mundo desenvolvido. Foi o golpe mortal no dragão da maldade que sufocou a inteligência portuguesa (e por decorrência a brasileira) ao longo de 285 anos (1536-1821).
Encaminhado às celas do Tribunal do Santo Ofício, onde permaneceu até 1805, logrou evadir-se para a Espanha sob um disfarce de criado, com o auxílio dos seus irmãos maçons. foi vítima de torturas, sem crime e sem processo regular. Hipólito, em “Narrativa”, tempos depois, diz que “nada irrita tanto o inquisidor, como um homem que raciocina”. Os maçons portugueses, embora na clandestinidade e ameaçados, estavam atentos, procurando a melhor ocasião para ajudar Hipólito a libertar-se das garras do Santo Ofício. Só em 1804, depois de dois anos e meio de sofrimentos, foi Hipólito da Costa retirado da prisão numa fuga novelesca e perigosa. Através de terras espanholas e via Gibraltar, Hipólito chega a Londres, onde é protegido pelo Duque de Sussex, filho do Rei George III, da Inglaterra. Sussex era Maçom.
Na Inglaterra, o Duque de Sussex conseguiu a sua naturalização como cidadão britânico, a fim de evitar um possível pedido de extradição pelo Governo português, sob a alegação de criminoso político fugitivo.
Na Inglaterra, obtêm a nacionalidade inglesa com a ajuda do Duque de Essex, adquirindo acções do Banco da Escócia o que lhe outorgava tal direito de forma imediata.
Em Londres, de 1806 a 1808, dava lições e fazia traduções para ganhar o seu sustento. Neste período, é iniciado Maçom na Loja “Antiquity n° 2”, em Londres.
Casa em 1817 com Mary Ann Troughton da Costa com quem tem 3 filhos, além de já ter tido 1 filho com Mary Anne (Lyons ou Symons). Obtendo a condição de estrangeiro neutralizado, um estrangeiro residente com alguns direitos políticos.
De Londres passou a editar regularmente aquele que é considerado o primeiro jornal brasileiro: o Correio Brasiliense ou Armazém Literário, que circulou de 1° de Junho de 1808 a 1823 (29 volumes editados, no total). Com este veículo, passou a defender as ideias liberais, entre as quais as de emancipação colonial, dando ampla cobertura à Revolução liberal do Porto de 1820 e aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil. O seu principal inimigo era Bernardo José de Abrantes e Castro, conde do Funchal, embaixador de Portugal em Londres, que chamou ao Correio: “Esta terrível invenção de um jornal português na Inglaterra”, vindo a editar um periódico contra ele, que circularia até 1819 (O Investigador Português em Inglaterra).
O primeiro número do Correio Brasiliense saiu directo de Londres para o Rio de Janeiro, chegando por aqui em Junho de 1808. Apesar de ser redigido em Londres, não deixava de trazer nas suas páginas notícias voltadas para o interesse da sociedade luso-brasileira. Este periódico atravessava o atlântico com a finalidade de levar aos brasileiros inúmeros assuntos, desde a política até a literatura e tudo mais que julgasse relevante para a formação do que ele denominou de o “Novo Império do Brasil”. Para Hipólito José da Costa a função do periódico seria o de propagar as luzes, retirando das trevas ou da ilusão aqueles que a ignorância atirou no labirinto da apatia. Assim, o redactor seguia os ideais maçónicos tão característicos na sua trajectória de vida e que influenciou directamente o seu jornalismo. Sempre pautado nos princípios de virtude, igualdade, liberdade e fraternidade, Hipólito conduzia a sua empreitada com o objectivo de esclarecer aos seus compatriotas, que tão importante quanto à liberdade civil, seria, também, a liberdade propiciada pelo esclarecimento, pelas luzes, pois, desta forma, todo cidadão poderia reivindicar e lutar pelos seus direitos de forma consciente sem a necessidade de haver revoluções, uma vez que a busca pela Perfeição Universal dar-se-ia através da expansão das Luzes. O facto de o Correio Brasiliense ser redigido em Londres, longe das garras da inquisição e da censura do governo luso-brasileiro, deixava o seu redactor mais a vontade e, com certeza, mais seguro para expor tudo aquilo que julgava importante, mesmo quando o assunto fosse desagradável para a Corte portuguesa. O peso da pena de Hipólito não poupava nada e nem ninguém, a ponto de condenar até mesmo a enorme influência da Inglaterra, país que lhe tinha dado abrigo, nos negócios de Portugal e consequentemente do Brasil. As leis da Inglaterra davam-lhes respaldo, pois conhecedor da constituição inglesa, Hipólito sabia das garantias de liberdade de imprensa no país. Nas páginas do Correio fica evidente a admiração que o redactor tem pela Constituição inglesa a ponto de transcrever várias partes da constituição e desejar que o Brasil seguisse o exemplo dos ingleses.
Faleceu em 1823, sem chegar a saber que fora nomeado cônsul do Império do Brasil em Londres. No Brasil é considerado o patrono da imprensa. Em Porto Alegre foi homenageado emprestando o seu nome ao Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Estava sepultado em St. Mary the Virgin, em Hurley, condado de Berkshire; mas em 2001 os seus restos mortais foram trasladados para Brasília. Actualmente os seus restos mortais estão nos Jardins do Museu da Imprensa Nacional. O seu irmão, José Saturnino da Costa Pereira, foi Senador do Império do Brasil e Ministro da Guerra.
Roberto Aguilar M. S. Silva

Notas

[1] William Carr Beresford (Irlanda, 1768 – 8 de Janeiro de 1854) foi um militar britânico, marechal (1809) e depois marechal-general (1816) do Exército português. Foi comandante em chefe durante toda a Guerra Peninsular, de Março de 1809 à revolução liberal de 1820, gozando de poderes de governação dada a ausência da Corte portuguesa, refugiada no Brasil (1808-1821).
[2] Gomes Freire de Andrade (Viena, 27 de Janeiro de 1757 – Forte de São Julião da Barra, 18 de Outubro de 1817) foi um general português.
[3] Originário da revolução francesa, o termo jacobinismo, também chamado jacobismo, teve uma significação diferenciada e evolutiva ao longo dos tempos. Originalmente, um jacobino era um membro do Clube Jacobino, clube maçónico francês com representação nos Três Estados e, depois, na Assembleia Nacional Francesa. No seu início, nos finais do século XVIII na França, a expressão era geralmente aplicada de forma pejorativa a qualquer corrente de pensamento que, para quem aplicava o termo, fosse defensora de opiniões revolucionárias extremistas! Os primeiros jacobinos, setecentistas, eram pequeno-burgueses ainda muito ligados às suas origens rurais e pobres, com pensamentos políticos e sociais radicais (queriam o extermínio dos nobres). Receberam a denominação de jacobinos pois reuniam-se inicialmente no Convento de São Tiago dos dominicanos (do nome Tiago em latim: Jacobus e do francês Saint-Jacques). Os seus membros defendiam mudanças mais radicais que os girondinos: eram contrários à Monarquia e queriam implantar uma República. Este grupo era apoiado por um dos sectoresmais populares da França – os sans-cullotes – e, juntos, lutaram por outras mudanças sociais depois da revolução. Sentavam-se à esquerda do salão de reuniões.
[4] Manuel Fernandes Tomás (Figueira da Foz, 30 de Junho de 1771 – Lisboa, 19 de Novembro de 1822), por muitos considerado a figura mais importante do primeiro período liberal, foi um magistrado e político vintista que se destacou na organização dos primeiros movimentos pró liberalismo.
Era juiz desembargador na Relação do Porto quando foi um dos fundadores do Sinédrio, assumindo um papel central na revolução liberal do Porto de 24 de Agosto de 1820. Foi figura primacial do liberalismo vintista, fez parte da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, criada no Porto, que administrou o Reino após a revolução liberal, sendo encarregue dos negócios do Reino e da Fazenda. Eleito deputado às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, pela Beira, participou activamente na elaboração das Bases da Constituição da Monarquia Portuguesa, que D. João VI jurou em 1821.
[5] Diogo Inácio de Pina Manique (1733 – 1805) foi um magistrado português. Formado em Leis pela Universidade de Coimbra, ocupou diversos cargos, antes de ser designado Intendente- Geral da Polícia. Foi juiz do crime em diversos bairros de Lisboa, superintendente-geral de Contrabandos e Descaminhos, desembargador da Relação do Porto, desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação. Homem da confiança de Sebastião José de Carvalho e Melo, só foi, no entanto, nomeado Intendente-Geral da Polícia depois da queda do marquês de Pombal. Acumulou este cargo com os de desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação, contador da Fazenda, superintendente-geral de Contrabandos e Descaminhos e fiscal da Junta de Administração da Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba. Em 1781, começou a funcionar no Castelo de São Jorge, em Lisboa, a Casa Pia, fundada por Pina Manique e destinada inicialmente a recolher mendigos e órfãos. Durante o reinado de D. Maria I, a sua acção como Intendente-Geral da Polícia orientou-se para a repressão das ideias oriundas da Revolução Francesa, designadamente através da proibição de circulação de livros e publicações, e da perseguição a diversos intelectuais. A pedido de Napoleão Bonaparte, o regente D. João acabaria por demiti-lo. Faleceu dois anos depois de abandonar o cargo.

Bibliografia

  • BRASIL SEFARAD. Inquisição. http://www.brasilsefarad.com/joomla/ index.php?option=com_content&view=article&id=89:inquisicao&catid=35:inquisi cao&Itemid=93
  • DINES, A. Hipólito da Costa, o crítico boicotado. http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/216.html
  • GRANDE ORIENTE DO ESTADO DO AMAZONAS. A Maçonaria em Portugal (1727-1820) http://www.goeam.com.br/macon_port/A_MAC_EM_PORTUGAL (1727-1820).pdf
  • LOJA MAÇÓNICA HIPÓLITO DA COSTA, N° 1960. Hipólito da Costa.
  • http://www.hc1960.org.br/Paginas/Historia%20de%20Hipolito%20da%20Costa. htm
  • SANTOS, B. M. O Correio Brasiliense: Um olhar sobre a sociabilidade maçónica. http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276655741_ARQUIVO_Texto_ANPUH_2010.pdf
  • SINAGOGA ADAT ISCHURUM – SHIL DA VILA. Acção da Inquisição Portuguesa no Brasil. http://shildavila.com/new/?p=1405WAPEDIA. Inquisição http://wapedia.mobi/pt/Santo_Of%C3%ADcio

M.'.U.'. - intolerância .'. desbastando a pedra bruta .'. TFA.'.

A Intolerância da intolerância

Paradoxo da tolerânciaSe o amor fraternal, o alívio e a verdade são os alicerces da Maçonaria, a tolerância é o cimento que os une. No entanto, num mundo que registou e / ou testemunhou uma crescente tolerância, nós, como maçons, somos bastante intolerantes. De muitas formas, o nível inaceitável de intolerância dentro das nossas lojas faz sentido quando observamos os esforços para manter o status quo actual.
Como fraternidade, há muito que falamos de tolerância, universalismo e Maçons reunidos no nível. Isto é um ideal fantástico e será verdade? Os maçons realmente praticam a tolerância e a equanimidade para com todos, e fizeram-no no passado? A Maçonaria trata os afro-americanos da mesma forma que os caucasianos? Trata os muçulmanos, judeus, hindus, mórmons e outras religiões monoteístas, da mesma forma que os cristãos; as mulheres têm tratamento igual aos homens? Podemos nós que estamos dentro verdadeiramente afirmar que não há fanatismo na Maçonaria? Será que já ouviu piadas racistas ou anti-semitas, insultos raciais ou anti-semitas e pejorativos, estereótipos de homens, mulheres, religiões, raças e grupos étnicos de outro maçom? Observações pessoais e experiências expuseram este escritor a todos esses comentários intolerantes – não apenas no mundo profano;  foram ouvidos directamente da boca de homens que se chamam maçons livres.
E quanto à tolerância entre irmãos? Um Venerável Mestre é tolerante para com o aprendiz mais jovem, quando ele tenta oferecer uma ideia diferente? Um Grão-Mestre é tolerante às críticas construtivas oferecidas para beneficiar a Ordem como um todo? Ou, quando um irmão confronta um Grão-Mestre ou um Venerável Mestre e o responsabiliza pelos seus compromissos verbais? São tolerantes com esta responsabilidade fraternal que foi solicitada? E quando um irmão discorda da visão de um Grão-Mestre (ou um Venerável Mestre), é tolerante com essa visão e está disposto a trabalhar com ele para conseguir um resultado bem-sucedido? E quanto aos irmãos que aderem a diferentes filosofias políticas, os irmãos têm sido tolerantes com as suas diferentes perspectivas e permaneceram irmãos de verdade? Novamente, este escritor observou muita intolerância nas circunstâncias descritas acima.
Será que os Maçons apoiam honestamente o direito de cada irmão a ser diferente da maioria? Nos anos 1900, a Maçonaria imaginou-se como construtora da sociedade, apoiando a liberdade e a democracia. Os maçons que escreveram e falaram durante esse período identificaram a fraternidade como uma instituição que trabalha para o aprimoramento da sociedade, acolhendo homens de todas as raças, religiões, etnias, culturas, níveis socioeconómicos e todas as origens, juntos e promovendo um mundo de paz. H. L. Haywood disse que deveríamos melhorar a condição humana através da educação e usar a Maçonaria para ajudar a família humana a viver feliz e junta.
Embora os Estados Unidos tenham evoluído de forma incremental nas suas visões gerais sobre a tolerância, muitos dos seus cidadãos estão presos em uma época e continuam a promover uma atitude de intolerância. O movimento de sufrágio feminino previa a tolerância nacional do voto feminino e eventual participação como funcionários eleitos. No entanto, este foi um pequeno abraço de tolerância, desde que as mulheres vêm lutando pela igualdade e, lentamente, ganhando pedaços do que elas procuraram durante um longo período. Mais de 30 anos se passaram desde que a Equal Rights Amendment (ERA) foi derrotada e as mulheres ainda estão à procura de igualdade de status com seus pares masculinos na sociedade americana.
Os afro-americanos foram libertados dos laços da escravidão no decurso da Guerra Civil dos EUA de 1860. No entanto, estes cidadãos não foram tolerados pela sociedade convencional fora do seu local socialmente construído por quase mais 100 anos. Os anos 60 expuseram a horrível falta de tolerância não apenas para afro-americanos; também expuseram os preconceitos religiosos contra um candidato à Presidência dos EUA. A Lei dos Direitos Civis abordou a intolerância da população através do estado de direito e, embora parecesse bom no papel e a comunicação social e as autoridades eleitas o aplaudissem, havia pouca fiscalização. Mais tristemente, os maçons fracassaram em aceitar os homens afro-americanos como iguais e continuaram a considerar o membros do Prince Hall Affiliation (PHA )como “clandestinos” e, portanto, indignos do seu companheirismo e reconhecimento até aos anos 80. Embaraçosamente, ainda existem 13 Grandes Lojas do sul que continuam a farsa e a falta de tolerância ao não reconhecer as Grandes Lojas da PHA dentro dos seus estados.
Os judeus ainda são o alvo do fanatismo, da intolerância religiosa e de piadas e estereótipos anti-semitas. Eles são vítimas de crimes de ódio e são culpados por fanáticos e teóricos da conspiração pelos males do mundo. Os homossexuais são também vítimas de grande intolerância, discurso de ódio religioso e social, e estereótipos falsos atribuindo o HIV / SIDA como resultado da sua orientação sexual.
Contudo, a nossa sociedade de amigos e irmãos fala de nossa diversidade como um aspecto enriquecedor da nossa fraternidade. É uma irmandade que une homens de todas as classes sociais. James Anderson disse em 1700, “a Maçonaria reúne homens que, de outra forma, permaneceriam em uma distância perpétua”. Os maçons dos anos 1900 e os irmãos da sua geração disseram que a Maçonaria poderia promover a paz mundial através do entendimento humano.
Intolerância, injustiça racial, étnica, religiosa, social e política atormentaram os Estados Unidos e todo o mundo. As experiências de intolerância por humanos, incluindo maçons, em todo o mundo revelam que a humanidade deve aprender a lidar com equanimidade a interagir com diferenças de raça, género, orientação sexual, etnias, cultura, idioma, nacionalidade, estilo de vida, religiões e diferenças políticas, se queremos sobreviver e continuar a evoluir como espécie.
Maçonaria pode ser e poderia ter sido no passado, em todos os tempos e em todos os sentidos, o principal promotor da tolerância e união sobre o nível. Como maçons, podemos ser os líderes na procura da harmonia racial e cultural, relações igualitárias e paridade vocacional entre homens e mulheres, bem como criar espaço para relacionamentos respeitosos entre pessoas de diferentes filosofias políticas.
Pode-se perguntar quando é que a Maçonaria mostrou o princípio da tolerância tanto filosoficamente como de forma prática. Nenhuma maior exposição de tolerância foi observada do que as ocorrências durante a Guerra Civil dos EUA. Este escritor está confiante de que estas ocorrências aconteceram como uma questão de rotina da vida diária, ainda que pareçam ter-se tornado uma prática rara após a Guerra Civil dos EUA. Não existe nenhum teste maior à tolerância existe do que aquele que ocorre no meio de conflitos armados, resultado de diferentes filosofias e ideologias políticas. A transcrição que se segue, é apenas um exemplo das aplicações práticas da tolerância que ocorreram durante os dias mais intolerantes da história dos EUA.

Funeral Maçónico pelo Inimigo

Em 11 de Junho de 1863, a lancha canhoneira Federal Albatross, com o tenente J. E. Hart da Loja St. George’s nº6 de Nova York no comando, estava ancorado no rio Mississippi, em frente à cidade de Bayou Sara (alguns relatos dizem que St. Francisville) que fica 15 milhas acima da fortificação Confederada­ de Port Hudson. A canhoneira fazia parte dos navios que sitiavam Port Hudson, Louisiana. O comandante Hart estava em delírio há muitos dias e estava confinado aos seus aposentos. Soou um tiro e o oficial-chefe do navio, Theodore E. Dubois, e o médico encontraram o comandante morto.
Os oficiais do navio que não queriam enterrar o seu comandante no rio enviaram uma bandeira de tréguas a terra para descobrir se havia uma Loja Maçónica local. William W. Leake, Venerável Mestre interino da Loja Bayou Sara, foi abordado pelo capitão Samuel White, que morava perto do rio, para realizar um funeral maçónico para o comandante Hart.
O Irmão Leake respondeu: “Como soldado do Exército Confederado, acho que é meu dever. Como Maçon, sei que é meu dever“. Em 13 de Junho, alguns membros da loja local usando paramentos maçónicos reuniram-se e encontraram-se com o cortejo de 50 homens do Albatroz sob uma bandeira de tréguas no topo de uma colina. Os irmãos Benjamin F. e Samuel F. White, da Bayou Sara, o cirurgião e os dois oficiais da canhoneira, que eram maçons, estavam no cortejo juntamente com um esquadrão de fuzileiros navais em posição de respeito.
Leake e os Irmãos locais marcharam em frente ao cadáver para o Cemitério da Grace Episcopal Church e enterraram o Irmão Hart na Secção Maçónica com honras militares e maçónicas com a colaboração do serviço da Igreja Episcopal. O irmão Leake liderou a parte maçónica dos cultos. O Cirurgião e os oficiais dos EUA pediram aos Irmãos que se juntassem a eles no Albatroz para jantar, mas estes recusaram. O cirurgião disponibilizou-se então ao irmão Leake para lhe fornecer remédios para a sua família. O irmão Leake recusou, mas posteriormente, o cirurgião enviou alguns medicamentos para Leake através do irmão Samuel White.
O túmulo de Hart foi marcado com uma lápide de madeira por muitos anos e, posteriormente, foi colocada uma lápide permanente cobrindo todo o túmulo. Esta lápide tinha escrito: “Este monumento é dedicado como tributo carinhoso à universalidade da Maçonaria“.
[Nota do autor: a expressão “e tolerância” poderia e provavelmente deveria ter sido acrescentada após o termo “universalidade” nesta dedicação do monumento].
Este evento único é o epítome da tolerância enraizada nos ensinamentos da Maçonaria. Se irmãos de lados opostos que se envolveram em batalhas letais na defesa das suas filosofias políticas e ideológicas são tolerantes com os seus irmãos e respeitam a tolerância o suficiente para impedir uma guerra de realizar um memorial funeral conjunto para um irmão caído, então nós como, Os maçons do século XXI, não devem ser menos tolerantes com os outros que enriquecem a nossa fraternidade com as suas diversidades únicas.
A tolerância é um princípio único e um comportamento esperado, associado à Maçonaria, mais do que a qualquer outra instituição na história. Por causa deste princípio único, a Maçonaria poderia ser a organização de ponta promovendo e apoiando a tolerância entre todos, em todos os lugares, em todas as circunstâncias. No entanto, com toda honestidade, se a Maçonaria quer ser o líder maior, único e de vanguarda, em direcção à tolerância, então devemos eliminar a intolerância dentro da nossa irmandade. A intolerância deve ser eliminada imediatamente e sem esperar que os outros mudem ou morram. Deve ser adoptada e bem clarificada nos nossos respectivos códigos jurisdicionais! Deve ser demonstrada e esperada nas nossas acções em todas as nossas Lojas: votação, reconhecimento e amizade com todos os seres humanos, independentemente de raça, religião, cor, sexo, orientação sexual, status socioeconómico, política, estilo de vida ou qualquer outra coisa fora da composição do carácter de cada um.
É vital que a tradição maçónica e o ideal de tolerância andem de mãos dadas na nossa irmandade imediatamente e sem demora. Paradoxalmente, deve haver tolerância zero à intolerância relacionada com qualquer coisa que vá para além da composição do carácter do outro humano. Através desta acção, a Maçonaria pode e será a maior instituição à face da terra na sua singularidade para promover e apoiar a tolerância e equanimidade para todos os seres humanos. Esta acção poderá ser a nossa mais forte contribuição e legado em nome de nossos ancestrais maçónicos – de nós, para os nossos futuros irmãos e para o mundo. Se nos recusarmos a abraçar o princípio maçónico de tolerância, então desonraremos os nossos irmãos ancestrais e a nós mesmos e, na opinião deste escritor, não temos o direito de reivindicar associação com os irmãos ancestrais que “se encontraram no nível, agiram no prumo e partiram segundo o quadrado“.
C. Shawn Oak
Tradução de António Jorge

Conhecer é preciso .'. tfa a todos .'.

Doutrina do grau de Aprendiz e de Companheiro

Em linhas gerais, a escalada iniciática do simbolismo maçónico é inerente aos seus três graus. A sua constituição dá-se pela “intuição (Aprendiz), análise (Companheiro) e síntese (Mestre)”.
Para tanto, cabe entender que a estrutura doutrinária maçónica, despida das fantasias e das ilações temerárias, respeitando ainda a metodologia e a cultura de cada um dos seus ritos, especificamente sugere ao homem iniciado as três etapas que compreendem a alegoria da vida – infância, juventude e maturidade.
Nesta acepção, o admitido na Maçonaria tem que se despir das nodoas profanas, o que em primeira análise significa deixar dos costumes temerários morrendo para os vícios e para as praticas condenáveis para que, na ordem natural das coisas, haja de facto o renascer de um novo homem. A síntese iniciática desse teatro é o mesmo que o despertar numa infância que traz consigo a índole pura e inocente. É o apólogo dos primeiros anos de uma nova vida. Compreenda-se que simbolicamente o Iniciado morre (Inverno) para renascer (Primavera).
Em Maçonaria, é isto que o iniciado tem por missão de representar na sua primeira fase da aprendizagem. Assim, o Aprendiz Maçon, dado ao seu carácter de pouco conhecimento diante dessa nova realidade, deve antes, com a devida prudência, preparar-se para encontrar o verdadeiro caminho da rectidão. Embora ele ainda siga caminhando por lugares sombrios, se bem compreendida a Arte, a sua intuição levá-lo-á ao seu guia (a razão) para que com perseverança um dia ele alcance o seu objectivo.
Mas qual será esse objectivo? Se utilizando as ferramentas certas, é o de se aprimorar reconstruindo no seu interior um Templo para servir de abrigo da Luz.
Filosoficamente essa primeira etapa, comum pelo desconhecido à frente, traz ao Iniciado a consolidação da dúvida e ele, ainda de visão embotada pelo desconhecido processo do esclarecimento, tenta enxergar por entre os devaneios e as tribulações aquilo que lhe é salutar.
O Aprendiz, digno representante da infância iniciática, utilizando-se da faculdade intuitiva, ainda tacteando pela escuridão, busca conhecimento imediato na plenitude da sua realidade. Entretanto, o pressentimento para as coisas correctas e saudáveis, paulatinamente o irão fazer perceber a importância de se conhecer a si próprio. Assim, a máxima socrática do “conhece-te a ti mesmo” surge como matéria principal da doutrina do grau do Aprendiz maçónico.
Cumprida a primeira etapa da senda iniciática, agora como Companheiro Maçon o admitido percorre a sinuosidade do caminho (Escada em Caracol), o que significa em primeira análise vencer os obstáculos da vida com sacrifício, dedicação e perseverança. É chegado o tempo de sopesar o que concebe o bem e o mal. Da dúvida, simbolizada pelo princípio da dualidade e dos antagónicos do Aprendiz, o Companheiro agora segue o estudo mais completo da essência da Vida. É essa a missão daquele que atinge o Segundo Grau na senda do aperfeiçoamento da Maçonaria.
Com a pragmática da juventude, da acção e do trabalho, toda a produção desse ciclo da vida deve interagir com a aplicação do seu conhecimento até aqui adquirido (método).
A evolução intelectual desvenda mistérios, mas exige a aplicação de mais outras ferramentas. Somente a prática e a dedicação ao trabalho trarão conhecimento suficiente para se usufruir das benesses dos utensílios, novos e apropriados. Cabe então ao Companheiro do Ofício perscrutar o porquê de se utilizar outras ferramentas além do Maço e do Cinzel. O seu discernimento, zelo e prudência fará com que o artífice do Segundo Grau golpeie cautelosamente a pedra esquadrejada durante o seu assentamento. A justa medida da sua força fará com que o golpe aplicado com o maço não esfacele a pedra (conhecimento e comedimento). O Maço, o Cinzel e o Aprendiz denotam a etapa dos conhecimentos das coisas terrenas, já o Companheiro aplicando outras ferramentas anuncia a investigação das coisas elevadas (astrais e espirituais).
Do estudo profundo das regras da Arte da Construção depende a realização humana. Examinar com minúcia o trabalho é também o esquadrinhar do caminho da vida. É a intenção; é o objectivo de tudo que até então tenha se apresentado na técnica de dirigir e orientar a construção do Templo interior.
Em linhas gerais, o Companheiro, depois de ter, ainda como Aprendiz, conhecido a si próprio, tem agora o desiderato de apreciar e examinar a razão e o porquê do seu próprio ser. A contingência de analisar as suas acções e delas perscrutar as suas consequências é um os motes da doutrina do Companheiro Maçon. Assim, a juventude é propícia para uma análise mais sucinta da Obra da Vida. Estudar a quintessência e investigar a leis da Natureza é o suporte para a elevação da Obra.
Por fim, a síntese de toda a escalada iniciática está representada no grau de Mestre Maçon. Na realidade o epítome é o resultado final da Arte. É a beleza da Obra acabada. É o Templo preparado para que nele se concentrem todos os segredos do Ofício. Tal é o seu mistério que essa não é matéria apropriada para esse arrazoado.
De tudo aqui comentado, nada é mais do que uma síntese dessa alegoria iniciática. A doutrina do Aprendiz e do Companheiro Maçon discretamente se encontra nos meandros da liturgia dos rituais autênticos e as suas prelecções (instruções). Além do que lhes é revelado, cabe também aos iniciados dedicação e observação meticulosa no desvendar dessa filosofia. Por óbvio, a Moderna Maçonaria mantém um método velado por símbolos e alegorias dos quais, boa parte desse relicário fora herdada das tradições, usos e costumes dos nossos ancestrais, antigos artífices e canteiros que esquadrejavam a pedra calcária e que viviam reunidos nas guildas que abrigavam as corporações de ofício da Idade Média.
Assim, o arcabouço doutrinário montado pela Moderna Maçonaria traz embasado nas antigas construções das catedrais um suporte metodológico que compara o homem, bruto e áspero tal qual a pedra retirada da jazida (matéria prima) com o homem esquadrejado e polido que pela constância e dedicação ao trabalho se tornou matéria prima especulativa imprescindível para fazer parte como elemento construtivo das paredes de um Templo dedicado à Virtude Universal.
É neste contexto de transformação que actuam as doutrinas de cada grau do simbolismo maçónico.
Como a discrição é um dos métodos da Arte, comenta-se que na construção do lendário Templo de Jerusalém (o primeiro), tido como a maior alegoria maçónica, não se ouvia nenhum ruído durante os trabalhos.
Com este propósito a Moderna Maçonaria traz de modo velado os seus ensinamentos, cujos quais são reservados somente aos iniciados. Sem tumulto e sem ruído, as grandes verdades muitas vezes estão tão próximas que não raras vezes podem passar despercebidas. Nada está colocado por acaso, porém tudo o que está colocado é inexoravelmente necessário. Intuir, analisar e sintetizar é o conjunto que serve de base para os ensinamentos maçónicos.
Concluindo, superficialmente a doutrina está em ensinar ao Iniciado que, com a utilização das ferramentas simbólicas, ele pode ser tornar um novo homem, aprimorado e preparado, para ser útil à sociedade. Especulativamente, é o transformar a pedra bruta e tosca num elemento aproveitável na construção – a Loja (Oficina) é o canteiro e o Homem, a matéria prima.
Adaptado de texto publicado por Pedro Juk