Tradução José Filardo
Desde que eu estou entre vós e com a luz que percebo e que
aumenta gradualmente de intensidade, eu vos agradeço. Todos os meus irmãos
dignos e amados, para o calor de seus sentimentos e seu conhecimento com o qual
vocês incentivam seus novos Irmãos para encontrar o caminho. O calor e o
conhecimento são uma e outra característica da luz, luz esta que venho buscar
em Loja.
O tema de meu trabalho hoje é o símbolo da cadeia
de União.
Para começar, o que é um símbolo?
Definição da palavra símbolo
O Larousse 2004 nos dá esta definição da palavra
símbolo: palavra de origem grega symbolon, que significa: sinal
figurativo, ser ou coisa animada, que representa um conceito, que é imagem,
atributo, emblema. A bandeira, símbolo da pátria. A balança, o símbolo da
Justiça. Esta definição me parece suscinta e pouco adequada para o ambiente
maçônico que envolve certa profundidade. Além disso, a definição encontrada no
livro, ‘Novo vocabulário da dissertação e estudos literários’ de Henri Bénac
parece-me mais forte e tem a vantagem de dar novas chaves, novas portas abertas
para explorar o que está escondido. Aqui está a sua definição: em grego, ‘sinal
de reconhecimento’ formado por duas metades de um objeto que aproximamos.
Encontramos a confirmação desta definição em um tema de estudo “a linguagem
dos símbolos” : O sentido etimológico da palavra símbolo significa reunir
duas partes distintas. A posse de cada uma das duas partes por dois indivíduos
diferentes lhes permite juntá-las e se reconhecer. Parece que, historicamente,
esta definição vem de Isidoro de Sevilha (Cartagena c. 530 – Sevilha 636) quem
escreveu as ‘Etimologias ‘ às quais os autores e os imagistas da Idade
Média recorreram muitas vezes. Isidoro de Sevilha, intérprete da etimologia
grega da palavra símbolo, o toma como o sinal que dá acesso ao conhecimento. Em
grego, a palavra sumbolon refere-se também à tessera, em outras palavras, o
tablete em que metade era dada aos hóspedes para os reconhecer. As cidades os
usavam com os visitantes e os primeiros cristãos tambéma as usavam como sinal
de reunião. O filósofo fenício Jâmblico (Anjar, Líbano, c. 250-330) define o
símbolo mostrando que ele apresenta um sinal, e que este sinal estabelece uma
relação. Ele especifica ainda que este termo designa uma convenção secreta
entre os Pitagóricos.
A partir de minhas pesquisas e minhas leituras,
posso tentar apresentar a seguinte síntese: o símbolo se apresenta como um
sinal. Ele é o sinal do invisível, do espiritual, do remoto. O símbolo revela o
mistério ao mesmo tempo em que o protege de olhares indiscretos. Ele também tem
a função de criar uma simbiose entre o espiritual e o humano e se conectar a
parte superior e inferior, o macrocosmo e o microcosmo.
História e simbolismo da Cadeia de União
A primeira descrição maçônica da Cadeia de União
parece aparecer em 1696 nestas linhas do Manuscrito dos arquivos de Edimburgo:
«Mas para (ser) um Mestre Maçom ou companheiro
do oficio, há mais a fazer, e isso é o que segue. Primeiro, todos os aprendizes
devem ser conduzidos para fora da companhia, e somente os mestres devem
permanecer… Então, os maçons sussurram para o outro a palavra começando pelo
mais novo… depois do que o novo maçom deve assumir a postura em que deve
receber a palavra… Então, o mestre lhe dá a palavra e aperta as mãos como fazem
os maçons e isso é tudo o que há a fazer para torná-lo um perfeito maçom»
O pequeno dicionário para uso do Aprendiz define a
Cadeia de União como “o símbolo da União fraternal da F.´. M.´.” Ela se forma
no fechamento do trabalho. Podem-se remover as luvas para formá-la e ela pode
ser curta ou longa.
Naturalmente, a Cadeia de União, que também
encontramos mencionada em 1723 em uma canção maçônica impressa ao final das
Constituições de Anderson é idêntica à borla de franjas e seus laços do amor
que representam a solidariedade e o amor que ligam cada um dos Irmãos da
Cadeia.
Esta poderosa Cadeia de fraternidade que unia os
Companheiros construtores da Idade Média, explica como os monumentos
construídos na Europa são de uma grande semelhança. Muitos dos construtores
desta época tinham adquirido seus conhecimentos na mesma escola, a da
Universidade de Córdoba, onde os muçulmanos trouxeram suas riquezas culturais
em áreas tão variadas quanto literatura, poesia, ciências exatas e arquitetura.
Eles observavam as mesmas leis da geometria e arquitetura. Eles dirigiram seus
trabalhos e seus edifícios de acordo com os princípios e as tradições
esotéricas. Graças à sua Cadeia de União fraterna, os maçons espalhados por
toda a Europa estavam sempre em contacto uns com os outros. Eles transmitiam
sua arte e suas melhorias conhecidas, desta forma eles estavam integrados às
técnicas de toda a corporação. Este belo exemplo de intercâmbio entre maçons
operativos da Idade Média permitiu a construção dos edifícios que admiramos.
Eles juntaram forças para construir uma obra comum e sua pedra, como a nossa,
vai se inserir em uma construção: O Templo Ideal da Humanidade.
Um simbolismo complexo e rico está ligado a esta
Cadeia de União, que também inclui: “Borda dentada”, “Corda de Nós ou Franja
Dentada”. Eu compartilho com vocês o que eu entendo sobre essas descobertas.
A Borda Dentada
A borda franjas consiste em triângulos alternados
brancos e pretos nos quatro lados do assoalho. Na antiga Maçonaria, dizia-se que
era feita de fios enrolados, mas hoje é uma borda serrilhada ou dentada. No
início do século XVIII, nos é informado, os símbolos da Ordem eram desenhados
em giz no chão sobre o chão e este diagrama era, então, cercado por uma corda
ondulada, enfeitada com franjas, de onde o nome “franja dentada”, que se
tornou por corruptela ‘borda dentada’. A tradução do francês é a franja
dentada que é descrita como uma corda amarrada em laços do amor, que envolve o
painel da loja.
O Painel
do Aprendiz
O ritual da Maçonaria faz dela o emblema da muralha
protetora da humanidade, composta por adeptos ou homens que nos séculos e
milênios passados se aproximaram da perfeição da evolução humana. Elas cercam a
humanidade no que alguns chamam de mundos invisíveis, indefiníveis
cientificamente, mas explicados na maior parte das teosofias, para preservar a
humanidade das misérias e dores infinitamente maiores do que aquelas que ela
sofre. Há uma dupla interpretação das quatro borlas que estão localizadas nos
cantos da moldura. Os simbolistas, geralmente veem ali a Temperança, a Coragem,
a Prudência e a Justiça; recebem sempre um sentido ético.
A Borda dentada que circunda todo o Painel separa
do mundo secular o espaço da loja, que é sagrado porquanto se realiza ali o
trabalho maçônico.
A Corda de Nós ou Franja Dentada
Entre os maçons operativos ou maçons do ofício
encontra-se a utilização da corrente do medidor ou a corda de nós quando se
trata de desenhar os planos de um edifício sagrado. Nas operações de medição, a
medida é feita por meio de uma corda de nós que fornece medidas ao mesmo tempo
em que fornece relações de proporção.
Pitágoras, de mãe fenícia, (Samos c. VIo seculo
a.D.) foi o primeiro a estabelecer a demonstração. E esta descoberta parecia
tão importante que 100 bois foram sacrificados para
esta ocasião. Esta ligação entre um fato
geométrico, o ângulo reto e uma relação de medida entre os lados do triângulo
já era bem conhecida dos antigos babilônios, 2.000 anos a.C.
O triângulo de Pitágoras associando os números sucessivos
três, quatro e cinco é carregado de um simbolismo fundamental. Trata-se do
único triângulo retângulo onde os lados são expressos por números inteiros. Nas
margens do Nilo, dois mil anos a.C., a lenda conta que os egípcios usavam uma
corda de treze nós, portanto 12 unidades para desenhar ângulos retos. Assim,
munidos deste bom esquadro, eles podiam reconstituir anualmente os limites dos
campos retangulares que as inundações do Nilo tinham feito desaparecer ao
trazer o lodo fértil. Os egípcios foram grandes fabricantes de cordas às quais
ele atribuiam grande valor. Um rolo de corda cuidadosamente trançada foi um dos
tesouros encontrados no túmulo de Tutankhamon.
A Cadeia de União, símbolo de Fraternidade
Logo que se declara ao candidato que ele foi admitido
na Maçonaria, ele é convidado a entrar na Cadeia de União. O novo irmão
descobre intuitivamente nesta cerimônia ritual mais que um sinal; ele recebe a
revelação de uma mensagem de fraternidade universal transmitida por seus
Irmãos. A fraternidade implica, a meu ver, os conceitos de compartilhamento,
lealdade, fidelidade e amor entre os seres humanos, entre os membros de uma
sociedade e, em particular, a nossa. A Irmandade não é necessariamente inata,
mas a estrutura da loja maçônica é favorável ao desenvolvimento fraterno e,
portanto, propícia ao desenvolvimento de qualidades, tais como a caridade, a
tolerância, a lealdade, a fidelidade. O Irmão Aprendiz estudioso conseguirá
assimilar, aperfeiçoar esses valores trabalhando assiduamente no desbaste de
sua pedra bruta. Para conseguir isso, ele deve dar prova de abnegação,
abandonar suas convicções para se colocar inteiramente na escuta do outro e se
colocar constantemente em questão para progredir, primeiro ele mesmo, para a
projeção de sua loja e da Maçonaria.
Isso me instrui sobre a seguinte noção: o aprendiz
deve talhar sua pedra bruta para remover a escória acumulada em sua vida
secular. Sua personalidade, sua psique assim lavada poderá irradiar. Quer
dizer, emitir energia através do espaço. O Dr. Gérard Encausse, conhecido como
Papus (La Corunha, Espanha c. 1865-1916) fala de correntes fluídicas. A meu
ver, o espírito estaria ligado a um espaço etéreo onde todos os espíritos
estariam ligados entre si. Vale o mesmo para a matéria onde o físico procura
estabelecer uma mesma equação em todo o universo. Estamos falando sobre a
teoria dos campos unificados. Ou em Maçonaria podemos criar essa unificação
destes corpúsculos de energia, ou seja, a Unificação da energia dos irmãos pelo
gesto ritual da Cadeia de União. Com efeito, durante uma sessão, uma energia,
uma atmosfera já surge pela orientação do Templo e a disposição dos irmãos
segundo sua função, o que se intensificará durante Cadeia de União onde todos
os Irmãos se dão as mãos formando idealmente círculo, símbolo da unidade. Dali
se desprende uma energia poderosa. Esta energia incalculável, mas vivida é para
mim a Egrégora. Pierre Mabille (Reims, França c. 1904-1952) diz sobre a
Egrégora “eu chamo de Egrégora o grupo humano dotado de uma personalidade diferente
daquela dos indivíduos que a formam”.
Eu tenho reservas sobre a teoria que diz que a
Cadeia de União é enfraquecida pelo elo mais fraco. Seria verdadeiro do ponto
de vista mecânico, mas para entender diferentemente do ponto de vista
energético, porque os elos, ou seja, os irmãos transmitem sua energia, um pouco
como, em física, as partículas em um acelerador. Da mesma forma, cada Irmão
adiciona sua própria energia, ao mesmo tempo em que ele a recebe de seus
Irmãos.
Conclusão
O tema desta conclusão é resumido em dois pontos
com suas interações.
O primeiro é a força da Cadeia de União.
O segundo está relacionado com a possibilidade de
utilizar esta força, para o meu trabalho interior e, por extensão, no mundo
secular.
Minhas mãos e a dos meus irmãos se cerram, nossos
seres se fundem. Esse contato energético cria um tipo de fluido que se espalha
pela Cadeia. É um compartilhamento recebido pela mão esquerda e dado pela mão
direita que permite transmitir a energia e, portanto, me fortalece.
Essa corrente me aquece, me conforta, me acalma,
como as mãos que abençoam, constroem ou curam. Este fluido que circula, que nos
aspira em direção ao alto é o Amor. Este amor, esta imensa compaixão, que vibra
universalmente em todos nós, nos liga a todos os nossos Irmãos habitantes na
superfície da terra, mas também, não nos esqueçamos jamais, com nossos Irmãos
que ganharam o Oriente Eterno. Este amor se adenda por esta fusão ritual e
coletiva que nos leva em direção à Luz.
A luz revelada durante minha iniciação, no entanto
não é adquirida, mas ela me ilumina o caminho, embora difícil que me leva ao
conhecimento e o gesto ritual da Cadeia de União dá-me força para desbastar
minha pedra bruta.
Esta energia positiva acumulada graças a você
todos, meus irmãos e irmãs, não poderiam ser usados para o nosso bem-estar, mas
ela deve também irradiar-se no mundo secular. Essa interação entre o mundo
interior e o mundo exterior, parece-me, é a condição sine qua non para
um mundo melhor, talvez perfeito. O uso destes dois adjetivos não é por acaso,
mas ela me permite, sem querer ser moralizante, trabalhar incansavelmente nas
metas de nossa comunidade cheio de amor fraterno.
Finalmente, estamo todos convidados, meus
honoráveis e dignos Irmãos e Irmãs, ou ainda mais, obrigados a estender nossa
Cadeia de União, torna-la mais longa na era da globalização, cruzando
fronteiras geográficas, onde cada um de nós tem o dever de externar esta
energia positiva e a propagar no mundo secular que corre o risco de se
desintegrar, para que sacrifiquemos tudo para salvar este mundo e o colocar no
caminho da perfeição.
Queridas Irmãs e irmãos, é o que eu tinha a dizer.
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