MAÇONARIA ETERNO APRENDIZ

Ser ou estar M.'., não é apenas ter o conhecimento de sinais, toques e palavras. É muito mais que isto. É poder aplicar o seu conhecimento em busca da verdade que nós leva, sermos melhores a cada dia. É entendermos e aplicarmos os propósitos maçônicos, seus valores morais e éticos. É sabermos de como melhor servirmos ao próximo. QUE O DEUS DE SEU CORAÇÃO LHES CONCEDA LUZ, SABEDORIA E PROSPERIDADE. A TODOS PAZ PROFUNDA .'.
EM P,', e a O.'.
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QUEREMOS APENAS AJUDAR .


Nos permitimos sugerir que você conheça: http://www.gomb.org.br/


Obs: para julgar é preciso primeiramente conhecer. Somos todos Irmãos .'.







quarta-feira, 19 de junho de 2019

MAÇONARIA UNIVERSAL .'. a loja mais antiga

Mary’s Chapel – a loja maçónica mais antiga do mundo

Quem passa em Hill Street junto à porta nº 19, não deixa de reparar no invulgar do seu aspecto, desde as colunas jónicas laterais até um misterioso emblema gravado por cima da entrada, que tem sido motivo das mais desencontradas leituras por aqueles que desconhecem estar diante da Mary’s Chapel nº 1 de Edimburgo, a mais antiga Loja Maçónica activa do Mundo.
Este emblema esculpido em pedra sobre a entrada principal portando a data 1893, nasceu de um projecto apresentado pelo Venerável Mestre Dr. Dickson no Lyric Club em 6 de Outubro desse ano e que se destinava a ser colocada aqui. Consiste num hexalfa dentro de um círculo tendo ao centro a letra G resplandecente. O hexalfa ou estrela de seis pontas com dois triângulos opostos entrelaçados circunscrito pelo círculo, designa a Harmonia Universal, a Alma Universal alentada pelo G raiado indicativo de Geómetra, o Grande Arquitecto do Universo, portanto, God ou Deus, que como Espírito (triângulo vertido) elabora a Matéria (triângulo vertido), ambos os princípios não prescindido um do outro (triângulos entrelaçados) para que a Grande Obra do Universo (a sua evolução e expansão incluindo todos os seres viventes dele) seja justa e perfeita, o que se assinala no círculo. Em linguagem Maçónica, isso quer dizer que os trabalhos de Loja possuem rectidão e ordem. Em linguagem hermética ou segundo os princípios de Hermes, o Trismegisto, significa “o que está em cima é como o que está em baixo, e vice-versa, para a realização da Grande Obra”.
Neste emblema aparecem também muitas marcas em forma de runas pictas (isto é, a dos primitivos habitantes da Escócia, os pictos, que estabeleceram o seu próprio reino) e símbolos de graus maçónicos que vêm a designar em cifra, correspondendo à marca Maçónica pessoal, os nomes dos Oficiais da Grande Loja da Escócia e da Loja de Edimburgo nesse ano de 1893 da qual esta Loja de Mary´s Chapel faz parte como número 1. Com efeito, entre os triângulos e o círculo aparece a sigla LEMC nº1, “Loja (de) Edimburgo Mary´s Chapel nº 1”, e dentro dos triângulos 12 símbolos correspondentes aos 12 Oficiais desta Loja, enquanto os 4 símbolos fora do círculo designam os 4 Oficiais da Grande Loja presentes quando se aprovou esta peça artística. Como exemplo único evitando indiscrições, repara-se no H com o Sol Levante por cima: é a marca pessoal de George Dickson, Venerável Mestre desta Loja de Edimburgo em 1893.
Leva a designação actual de Loja de Edimburgo porque Mary´s Chapel (Capela de Maria), onde a Loja funcionou originalmente, não existe mais. Ela foi fundada e consagrada à Virgem Maria, no centro de Niddry´s Wynd, por Elizabeth, condessa de Ross (Escócia), em 31 de Dezembro de 1504, sendo confirmada por Carta do rei James IV em 1 de Janeiro de 1505. A capela foi demolida em 1787 para a construção de uma ponte no sul da cidade.
Esta Loja é a número 1 na lista da Grande Loja da Escócia (estabelecida em 30 de Novembro de 1736) por lhe ser muito anterior possuindo a acta de uma sessão Maçónica datada de 31 de Julho de 1599, constituindo o documento maçónico mais antigo do mundo e num tempo de transição entre a Maçonaria Operativa e a Maçonaria Especulativa, posto a existência desta Ordem poder repartir-se por três períodos distintos:
  1. Maçonaria Primitiva (terminada com os colégios de artífices romanos, os Collegia Fabrorum);
  2. Maçonaria Operativa (terminada em 1523);
  3. Maçonaria Especulativa (iniciada em 1717).
Por este motivo, foi nesta Loja de Mary´s Chapel que William Shaw (c. 1550-1602), Mestre de Obra do James VI da Escócia e Vigilante Geral do Ofício de Construtor, apresentou os seus famosos Estatutos Shaw datados de 28 de Dezembro de 1598, apercebendo-se pelo texto que ele além de pretender regular sob sanções a Arte Real dos artífices, procurava estabelecer uma separação entre os maçons operativos e os cowan, isto é, profanos.
O facto de aqui se redigir uma acta Maçónica em 1599, pressupõe que a Loja é anterior a esse ano e estaria organizada e activa desde data desconhecida. Seja como for, esta também foi a primeira Loja Maçónica antes de 1717 a admitir membros que não fossem construtores: Sir Thomas Boswell, Escudeiro de Auschinleck, Escócia, foi nomeado Inspector de Loja em 1600, o que constitui a primeira informação relativa a um elemento não profissional recebido em Loja de Construtores Livres. Outros autores dão o nome como John Boswell, Lord de Auschinleck, admitido como Maçon aceite nesta Loja. Este John Boswell é antecessor de James Boswell, que foi Delegado do Grão-Mestre da Escócia entre 1776 e 1778.
As actas de 1641 desta Loja Mary´s Chapel igualmente indicam que maçons especulativos foram iniciados nela. Nesse ano foram iniciados Robert Moray (1609-1673), general do Exército Escocês e filósofo naturalista, Henry Mainwaring (1587-1653), coronel do Exército Escocês, e Elias Ashmole (1617-1692), sábio astrólogo e alquimista. Reconheceu-se aos três novos membros o título de maçons, mas como não gozavam dos privilégios dos autênticos obreiros, pois o cargo era somente honorário, foram denominados como accepted masons.
Ainda sobre Robert Moray, Roger Dache, do Institut Maçonnique de France, informa que aquando da sua iniciação Moray recebeu como marca Maçónica pessoal o pentagrama ou estrela de cinco pontas, muito comum na tradição dos antigos construtores, com a qual se identificou bastante e a utilizou nas assinaturas de diversos documentos. Ainda sobre Elias Ashmole, G. Findel, na sua História da Maçonaria, diz que há uma confusão nas datas sobre a sua iniciação Maçónica: Ashmole terá sido iniciado em 16 de Outubro de 1646 numa Loja de Warrington, Inglaterra, mas o facto é que o próprio escreve no seu Diário ter sido iniciado em Edimburgo em 8 de Junho de 1641.
Em 1720, o artista italiano Giovanni Francesco Barbieri apresentou na Loja Mary´s Chapel um trabalho lavrado, reproduzindo com muita fidelidade a Lenda de Hiram, ou seja, o fenício Hiram Abiff que era o chefe dos construtores do primitivo Templo de Salomão, em Jerusalém. Sabendo-se que esta Lenda foi incorporada ao ritualismo maçónico cerca de 1725, conjectura-se que Giovanni possa ter sido um dos maçons aceites da época e que a Lenda já era parte da ritualística Maçónica em Mary´s Chapel desde muito antes.
Há ainda o registo da visita de Jean-Theophile Désaguliers (1683-1744) à Loja Mary´s Chapel em 1721, visita estranha do filósofo francês Vice-Grão-Mestre (em 1723 e 1725) da recém-formada Grande Loja de Inglaterra. Os maçons escoceses duvidaram do seu estatuto e sujeitaram-no a rigoroso inquérito em 24 de Agosto de 1721, até finalmente acreditarem nele e aceitarem-no com as regalias do cargo. Seja como for, não parece que as pretensões de Désaguliers tenham obtido o êxito que procurava, talvez por motivos de recusa de sujeição dos maçons escoceses aos maçons ingleses, o que recambia para a antiga questão independentista.
Foram ainda iniciados nesta Loja de Edimburgo o príncipe de Gales, depois rei Eduardo VII (1841-1910), e o rei Eduardo VIII (1894-1972), que abdicaria do trono britânico para poder casar com a americana Bessie Wallis Warfield. A caneta com que assinaram o documento da sua iniciação é conservada no museu desta Loja, que o visitante pode ver entre outros objectos relacionados com a longa história dos maçons de Mary´s Chapel.
Aqui fica, em síntese simplificada para o leitor não familiarizado com estes assuntos, a história da Lodge of Edinburgh nº 1 (Mary´s Chapel), aliás, desconhecida de muitos maçons apesar de ser a mais antiga da Escócia e do Mundo.
Vitor Manoel Adrião

MAÇONARIA UNIVERSAL - muitos a procuram pelos METAIS . CUIDADO .'.

Deslumbramento Maçónico

medalhasSexta-feira, 4 de Junho, 23:30. Terminava a cerimónia pela qual eu havia esperado durante muitos anos da minha vida. Dali para a frente muita coisa mudaria na minha forma de ver o mundo e de participar dele.
Todos na sala me chamavam de “Irmão” e me cumprimentavam. Como isso soava esquisito, pois todos eram desconhecidos para mim. Pela minha cabeça só passavam fragmentos dos sons e sensações por que eu tinha passado há alguns instantes. Ainda ressoavam algumas perguntas que me tinham sido feitas e as respostas mais ou menos correctas que eu tinha retribuído.
Algumas vozes na sala soavam-me familiares, pois eu tinha-as ouvido e agora podia identificar os seus donos. Em geral todos eram muito diferentes do que eu tinha imaginado quando não os podia ver.
Dia seguinte. O meu primeiro acto, após as obrigações matinais de higiene pessoal, foi pegar o adesivo da nossa Loja, que o meu padrinho me dera na noite anterior, e colocar no vidro traseiro do carro. Agora eu era “um deles”. Estava cheio de orgulho por ter sido aceito na Ordem e poder desfrutar do status que isso gerava.
Dirigia torcendo para que alguém reconhecesse os símbolos contidos no adesivo do carro e identificasse a minha nova situação de maçom. Até ficava imaginando as respostas que daria caso alguém me fizesse as perguntas necessárias para identificar o meu “status maçónico”.
E como explicar a sensação de orgulho causada por um Irmão buzinando e te cumprimentando em plena rua? Será que alguém mais ouviu esta buzina? Será que algum “profano” percebeu que agora eu sou um ser “diferenciado”?
Mas pensando bem, agora que já se passaram alguns dias da iniciação, este adesivo da Loja parece muito discreto, quase que é preciso colocar uma lupa para enxergar os símbolos. Está na hora de colocar um adesivo da nossa Potência no vidro traseiro do carro e um outro no pára-brisas dianteiro. Vai que um policial pare o meu carro… quando ele vir o adesivo com o esquadro e o compasso com certeza ir-me-á mandar ir embora, pois saberá que os seus superiores são meus Irmãos e ele não mexeria com o Irmão do chefe, claro.
Vi num website, uma caneta toda decorada com temas maçónicos, linda, nada discreta. Em qualquer lugar em que eu a usar, serei identificado, quase reverenciado. Serei um sucesso. Lógico que a comprei. Ah, e também um anel de ouro com o esquadro e compasso em preto. Reluz mais do que um farol em dia de nevoeiro. Pode-se vê-lo à distância.
Isto sem falar dos pins que tenho na lapela dos meus fatos. Cada um para uma ocasião diferente. Tem aqueles para as Sessões Magnas, aqueles para uso em reuniões de trabalho e também alguns que podem ser usados com roupas mais informais. Também existem os meus prendedores de gravata.. Tenho vários, uns dez pelo menos… apesar de prendedores de gravata estarem fora de uso. Mas quem se importa? Como o meu avental ainda é todo branco eu compenso isso usando outros adornos. Levo um tempão para colocar tudo: caneta, anel, pins, prendedor de gravata…
Só que há uma coisa que me tenho questionado muito ultimamente: o meu comportamento. Pergunto-me se os meus mais recentes actos estarão a ser coerentes com o que eu escuto em Loja. A minha curta paciência poderia ser o motivo dos meus problemas no trabalho, por exemplo?
Vejo que o que tenho aprendido em Loja e o que tenho praticado são suas coisas distintas. Critico os Irmãos , fico de olho nas cunhadas e pasmem, até nas sobrinhas, dou pequenos golpes usando os meus três pontos na assinatura, fico na minha, mas pago a minha quotização em dia, né?!.
Porém, hoje começo a entender o que os Irmãos querem dizer quando citam que as instruções são simbólicas, mas que elas vão transformando o iniciado. Percebo que estou muito distante de ser a pessoa que eu gostaria, pois ainda estou apegado a futilidades e aparências.
Os meus filhos têm sido o maior espelho deste meu comportamento erróneo, pois não sei ter uma palavra de carinho para com eles e sempre que eles me querem contar algo sobre o seu dia, eu uso a desculpa de estar cansado e não lhes dou atenção… pobrezinhos. Dias atrás, por falta de paciência até dei um tapa neles, e briguei com a cunhada indo dormir no sofá.
Os meus irmãos então, tem um irmão desempregado na Loja, mas ele é Mestre, ele deve saber todos os segredos maçónicos da riqueza. Eu não devo nem me preocupar com ele não é? E aquela “cunhada” da rua de trás , o irmão está doente, afastado pelo INPS, eu nem tenho tempo para ir lá, pois isso é coisa dos irmãos mais velhos de loja, do irmão Hospitaleiro, não é ? Eu sou só um simples aprendiz! A minha obrigação é ir à loja! Pois, é só pegar meu RITUAL REXONA, pô-lo debaixo do braço e ir para a sessão. Pois é bem legal, sempre tem uns comes e bebes depois! Estudar maçonaria… eu faço isso depois!
Ah sim! Preciso de trocar de carro, eu vou negociar com um irmão que tem uma garagem de venda de carros, pois agora sou maçom e vocês sabem, maçom, tem de ter carro novo, de preferência importado.
Escrever sobre tudo isto é muito doloroso, mas talvez sirva para alertar outros a não cometerem os mesmos erros que os meus. E a pensar bem os motivos que têm para quererem entrar na Ordem. Se for só para satisfazer o ego, advirto, alerto e falo que é trabalho e tempo perdido. Mas se for para começar a dar um rumo mais recto à sua vida e buscar formas de se tornar uma pessoa mais humana e solidária e começar a pelo menos perceber os seus erros, posso afirmar que é um bom começo; se não é, sinto muito, mas você não completou a sua iniciação!
Estás nas trevas, e sempre estarás!
Denílson Forato

a presença de DEUS .'.

Presença de Deus nas lojas maçónicas

Existem dois dogmas considerados gravados na pedra, em Maçonaria: A crença no Grande Arquitecto do Universo e a Imortalidade da alma; nenhum candidato a pertencer a Ordem poderá ser admitido se não responder afirmativamente à crença nestes dois pré-requisitos.
O iniciado percorrerá, ao longo da sua vida maçónica, um longo caminho na procura da verdade, metafisicamente falando, à procura do absoluto; aprendemos com Hiram, o construtor do templo de Salomão (2 crónicas Ii-13), segundo pensamos, um dos nossos irmãos do passado, esta terrível e ao mesmo tempo intrigante constatação: Viver não é toda a vida, indicando, para quem tem ouvidos para ouvir, que deverá haver uma existência futura.
Esta afirmação ecoa, para nós Cristãos, nas palavras de Jesus que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida!” Não iremos voltar à história longínqua do passado da nossa Ordem, fase a que, embora, histórica e filosoficamente, os iniciados podem ter acesso e comparar com os nossos manuais, mas que, para o profano, muitas vezes possa parecer que estão encobertas por lacunas documentais, cujos ecos reverberam nas curvas dos séculos.
A moderna maçonaria foi instituída na Inglaterra a partir de 1717 e está toda alicerçada num documento promulgado em 1723 e que se tornou a trave mestra da nossa Instituição: A Constituição de Anderson; a partir daí, até aos dias actuais, nenhuma cláusula pétrea desta Constituição foi modificada por qualquer corpo maçónico de todo o mundo.
Este documento foi escrito por James Anderson, um pastor protestante escocês, que compilou e ordenou os velhos arquivos, comparando-os e conciliando-os com a cronologia da história do mundo.
Interessa-nos, para o momento, destacar deste documento o seu 1° Capítulo: Deveres para com Deus e a religião, onde se lê ipsis litteris (na tradução do original inglês):
“Um Maçon é obrigado, pela sua condição, a obedecer à Lei moral; e se compreende bem a Arte, não será jamais um Ateu, nem um libertino irreligioso”.
Mas se bem que nos tempos antigos os Maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da religião, qualquer que fosse, desse país, contudo é considerado mais conveniente de somente sujeitá-los àquela Religião sobre a qual todos os Homens estão de acordo, deixando a cada um as suas próprias opiniões; isto é, serem Homens de bem e leais, ou Homens de Honra e de Probidade, quaisquer que sejam as Denominações ou confissões que professem.
Em 1949, as três Grandes Lojas da Inglaterra, Irlanda e Escócia, fizeram a seguinte declaração conjunta (resumo):
“A primeira condição para ser admitido na Ordem como membro é a fé no Ser Supremo; condição considerada essencial e que não admite contemporização; a segunda é que a Bíblia, considerada pelos maçons como o Livro Sagrado da Lei, permaneça aberta em Loja. Todo o candidato deve prestar o seu juramento de compromisso sobre este livro sagrado, nos três troncos religiosos monoteístas, a saber, o Hebraísmo, o Cristianismo e o Islamismo, segundo a sua crença pessoal, dando carácter solene ao seu juramento ou à promessa por ele feita”.
No Brasil, um dos maiores críticos da Maçonaria, por razões que não cabe aqui discutir, frei Boaventura Kloppenburg. No Capítulo VI do seu livro publicado em 1961 “A maçonaria no Brasil – Orientação para os católicos” afirma:
“A maçonaria merece, sem dúvida, os nossos mais vivos aplausos pelo facto de manter, intransigentemente, em repetidas e solenes declarações de princípios, a crença num Ser Supremo e mesmo na espiritualidade da alma e no primado do espírito sobre a matéria. Na vigorosa afirmação deste princípio não podemos incriminar a maçonaria; pelo contrário: deve merecer o nosso reconhecimento e louvor”.
Deve-se considerar, ainda, que a maçonaria considera esta crença num Ser Supremo como uma doutrina Teísta, tendo sido sufocada pelas discussões, a ideia do Deísmo no seu seio. Albert Pike, autor de uma das mais impressionantes obras da maçonaria universal (Moral and Dogma of Freemasonry, 1871) afirmou neste mesmo livro que “A fé presente num homem pertence-lhe tanto como a sua razão. No homem, o Divino está unido ao humano”.
Embora o filósofo espanhol Ortega y Gasset não tenha sido um Maçon, permito-me repetir uma das suas famosas frases para fazer ilações com o que disse Pike:
O homem é ele e as suas circunstâncias!
Adaptado de Hélio Moreira

MAÇONARIA .'. os STUARTS

Os Stuarts e a Maçonaria, história ou lenda?

House of Stuarts
A associação dos Stuarts com a Maçonaria continua a ser uma das grandes figuras da imaginação maçónica do século XVIII. Muitos rituais ou correspondência explicam que desde tempos imemoriais, os Stuarts eram os protectores e os chefes secretos da Ordem, alguns até mesmo adicionam que um propósito oculto das Lojas era então restaurar a infeliz dinastia escocesa no seu trono legítimo. O que é realmente isso; história ou lenda?
Talvez não haja aqui fumo sem fogo, mas ainda hoje os historiadores não conseguem encontrar provas documentais sobre o envolvimento real dos últimos representantes da grande dinastia com a Maçonaria escocesa. Elementos raros emergem como a existência comprovada de uma Loja “jacobita” na comitiva de James III no exílio em Roma, ou de algumas lojas stuartistas claramente identificadas em Paris na década de 1730 por Pierre Chevallier. Mas, por outro lado, todas as patentes ou cartas constitutivas supostamente concedidas assinadas ou promulgadas pelos Stuarts revelaram-se falsas.
Desde 1653, a Loja de Perth exibe um pergaminho dizendo que James VI da Escócia foi iniciado como Aprendiz no seu seio em 15 de Abril de 1601. Os rumores em torno da existência de uma Loja no exílio de Saint-Germain-en-Laye em 1688 ocupam os maçons de Paris desde 1737. Em 1749, o ritual da Sublime Ordem dos Cavaleiros Eleitos afirma que os Templários perseguidos foram acolhidos e protegidos pelos reis Stuart na Escócia, onde eles se esconderam nas Lojas dos maçons.
A lenda tornou-se ainda mais viva que a personalidade; a epopeia e o trágico destino de Charles Edward Stuart, conhecido como Bonnie Prince Charlie – chamado de “jovem pretendente” (1720-1788) – conferem-lhe uma forte dimensão romântica. A sua reconquista inaudita da Escócia por alguns meses em 1745 e, em seguida, a fuga para as montanhas depois da derrota fatal de Culloden apaixonaram então toda a Europa.
Seja por cálculo, como a crítica moderna o acusou, ou mais ou menos de boa fé como pensamos, o Barão de Hund conservou esta genealogia Templária e Stuartista quando começou a desenvolver a “Estrita Observância” Templária na Alemanha a partir de 1750. Ele alegava ter sido recebido em Paris na década de 1740, na Ordem do Templo restaurada no seio de uma loja reunindo membros ingleses e escoceses seguidores de Charles Edward Stuart. Fizeram-lhe supor que Charles Edward era o Grão-Mestre secreto dos Maçons sob o nome de “Eques a sole Aureo”. A Maçonaria que dissimulava a continuação secreta da Ordem do Templo era na realidade dirigida por chefes que ninguém conhecia, os “Superiores Desconhecidos”.
O grande sucesso da Estrita Observância Templária popularizou mais o suposto papel dos Stuarts nas Lojas. Após a morte de Hund, o novo Grão-Mestre, o príncipe Ferdinand de Brunswick quis saber onde se colocar. Em 1777, ele então envia um Maçon muito activo, o Barão de Waechter junto do “jovem pretendente”, que não o é de facto, para o interrogar “oficialmente” – finalmente! – sobre as ligações reais dos Stuarts com a Maçonaria. Este dá uma resposta confusa, mas da qual finalmente fica claro que nem o seu pai nem ele eram maçons. Mas o lado evasivo da resposta e a reputação de dissimulação ligada a Charles Edward não resolvem a questão, e os dignitários maçónicos alemães e suecos voltam à carga. Abordado por diversas vezes, ele acaba por insinuar que se as lojas desejassem, ele estava pronto para assumir os deveres do seu cargo!
Pressionado por todos os lados – e à procura de reconhecimento e… dinheiro! – em 1783, ele finalmente dá uma Carta Patente “verdadeira-falsa” ao rei Gustavo III da Suécia reconhecendo-o como seu legítimo sucessor como chefe da Ordem dos Cavaleiros de São João do Templo, isto é, da Ordem Maçónica Templária.
Desde tempos imemoriais à pergunta “Sois Maçon? ” as instruções maçónicas mandam responder: “Os Meus Irmãos reconhecem-me como tal.” Se é quase certo que ele nunca foi iniciado em boa e devida forma, Charles Edward era reconhecido desde longa data “como tal” por muitos maçons do século XVIII. No crepúsculo da sua vida, ele finalmente aceitou esta coroa que todos lhe queriam colocar. A única que ele jamais colocaria na sua cabeça.
Pierre Mollier
Adaptado de tradução feita por José Filardo e publicada em Bibliot3ca

MAÇONARIA .'. juramento e compromisso .'.

Juramento e compromisso maçónicos

Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de tipo esotérica-iniciática tal como a Maçonaria se define, é habitual o novo membro efectuar um juramento no momento da sua admissão ou durante a execução de uma cerimónia de cariz iniciático, no qual se assume um determinado compromisso.
E somente após a realização desse juramento é que o neófito é recebido e integrado no seio da respectiva Ordem.
No caso que irei abordar e que será sobre a Maçonaria, é natural quando se fala em compromisso maçónico também se abordar simbioticamente o juramento maçónico. Tanto um como o outro são indissociáveis, porque um obriga ao outro e o mesmo, reciprocamente.
Durante o desenrolar de uma Iniciação Maçónica, no seu “ponto alto”, o neófito concorda em submeter-se a um juramento onde assume como compromisso de honra, aceitar e respeitar as Regras, Usos e Costumes da Maçonaria bem como as regras e leis do país onde se encontra sediada a Obediência Maçónica e a respectiva Loja da qual irá fazer parte.
Nomeadamente e de entre os vários princípios maçónicos que se aceitam cumprir, os mais conhecidos pelo mundo profano são a Fraternidade entre todos os Irmãos, a persecução do espírito da Liberdade na Sociedade Civil e o sentimento de Igualdade entre todos.
Assim, assumir-se um compromisso com a Ordem Maçónica é assumir-se um compromisso pela Ordem e a bem da Ordem. Isto é que é o tão propalado estar à Ordem.
E estar-se é mais do que o ser-se! E digo isto porque qualquer um pode “o ser”, mas “estar” apenas se encontra ao alcance de poucos…
Estar implica sacrifício, compromisso, trabalho, prática e estudo, e isto de forma incansável e não perene.
Por isto é que assumir um compromisso deste género e com a relevância que este tem, nunca deverá ser feito de forma leviana; o mesmo se passa com os outros compromissos que se assumem durante a nossa vida profana e que também não devem ser assumidos se não estivermos capacitados para cumpri-los.

Há que se ter a noção daquilo a que nos propomos a fazer

Por isso é que o compromisso maçónico é feito com a nossa Palavra e sobre a nossa Honra. Desvirtuar estas duas qualidades é desvirtuar a própria Maçonaria.
Da mesma forma que, se não respeitarmos a nossa palavra e não mantivermos a nossa dignidade na sociedade civil, também não somos dignos de nela estarmos integrados e sofreremos as consequências ou punições que forem legitimadas pelas leis do país.
De certa maneira, a Maçonaria actua e assemelha-se com a sociedade profana, com as suas leis e os seus costumes, competindo aos maçons respeitar a sua aplicação e observar o seu cumprimento. É mais que um dever ou obrigação tal. É a Assumpção que assim o deve ser e nada mais!
Porque assim tem funcionado há quase três séculos e o deverá continuar a ser noutros tantos…
Aliás, na Maçonaria contemporânea encontra-se algo que dificilmente se encontra na profanidade actualmente, ou seja, o valor da palavra sobre a escrita. O que não deixa de ser curioso dados os tempos que correm.
Nesta Augusta Ordem, ainda hoje aquilo que um Maçon afirma tem um valor tal, que se poderá assumir que não necessitará de ser escrito para que seja considerado; basta dizer, que assim será.
O tal “contrato verbal” na Maçonaria ainda hoje tem lugar. E somente pessoas de bons costumes o usam fazer, pois a sua honra e a sua conduta serão sempre os seus melhores avalistas.
Não obstante, o compromisso maçónico ao ser albergado por um juramento, obriga a que quem se submete a ele, o faça de forma permanente. Não se jura somente aquilo que gostamos ou somente aquilo que nos dá jeito cumprir.
Quando entramos para a Maçonaria sabemos que, tal como noutra associação ou organização qualquer, existem regras e deveres para cumprir; pelo que o cooptado se compromete em respeitar integralmente todas as regras e deveres que existem na sua Obediência. E quem age assim, faz porque decidiu livremente que o quer fazer e não porque alguém a tal o obriga.
E uma vez que a adesão à Maçonaria se faz por vontade própria, aborrece-me bastante (para não ser mais acutilante ainda…) assistir ou ter conhecimento de casos em que este juramento foi atraiçoado e em que os compromissos assumidos perante todos, foram deliberadamente e conscientemente esquecidos.
Será que quem age desta forma, poderá ser reconhecido como um verdadeiro Maçon?
Ou será apenas gente que simplesmente enverga um avental e um par de luvas brancas nas sessões da sua Loja?
Em alguns casos destes, creio que foram pessoas que entraram na Maçonaria, mas que por sua vez, a Maçonaria certamente não entrou neles…
Algumas vezes, infelizmente, isto pode acontecer porque quem vem para a Maçonaria vem “desavisado”, isto é, pouco conhece ou percebe o que é a Maçonaria e o que ela representa, “vem ao escuro” por assim dizer, e caberá a quem apadrinha uma candidatura maçónica, informar ou retirar algumas dúvidas que se ponham ao seu futuro afilhado e consequente irmão.
Em última instância, devem os responsáveis pelas inquirições que decorrem no âmbito de um processo de candidatura maçónica, no momento das entrevistas aos candidatos, terem a sensibilidade para se aperceberem do desconhecimento do entrevistado sobre os princípios e causas que movem os maçons e sobre a Ordem da qual este manifesta a vontade de vir a fazer parte, e nesse caso, serem os próprios inquiridores nessas alturas em concreto, a efectuar o trabalho que deveria ter sido feito anteriormente pelo proponente da referida candidatura, no que toca a esclarecer o profano e a fornecer-lhe as informações que lhe sejam necessárias para que esta (possível) adesão possa decorrer sem sobressaltos, nem que esta admissão venha a causar problemas (previsíveis!) no futuro, seja para a respectiva Loja ou até mesmo para a Obediência que porventura o vier a acolher.
Todavia, normalmente no momento do juramento maçónico, o neófito faz sem saber/compreender o que estará a jurar e para o que estará a jurar, pois o véu que o cobre na sua Iniciação é de tal densidade que muitas vezes somente passado algum tempo é possível se perceber o juramento que se fez e o compromisso que se tomou, e que por vezes pode ser diferente daquilo que são as crenças pessoais e respectiva forma de estar de cada um ou até mesmo porque se acreditava que se “vinha para uma coisa e afinal se encontrou outra”…
E o trabalho que um padrinho deve desenvolver com o seu afilhado durante a formação deste tanto como a responsabilidade que assumiu perante o afilhado e a Ordem ao subscrever a candidatura dele, serão fulcrais neste tipo de situação concreta.
O padrinho (pelo dever moral) e a Loja em si (porque é um dever da loja acompanhar e tentar integrar correctamente os Irmãos nos valores maçónicos) devem tentar perceber o motivo pelo qual alguém se “distancia” da Maçonaria.
E apenas ulteriormente, se for caso disso, devem aconselhar a um possível adormecimento desse irmão por não ser do seu intento continuar a pertencer a algo com o qual não se identifique mais.
Pelo que desta forma prevenir-se-ão certos casos e eventuais “lavares de roupa suja” ou fugas de informação que poderão surgir, as quais na sua maioria nem sequer são informações plausíveis nem verídicas sequer, pelo que apenas posso especular que estas ocorrências se devem a paixões e vícios mal combatidos e nem sequer evitados… E como se costuma dizer, “o mal corta-se pela raiz”, pelo que “as desculpas devem evitar-se”…
E uma vez que quem entra na Maçonaria tem de ter a noção que as suas atitudes já não lhe dirão respeito apenas a si, mas a todos os integrantes desta Augusta Ordem, a conduta de um Maçon estará sempre sob um fino crivo pela sociedade e sempre debaixo do escrutínio de todos, seja de fora ou internamente. – Porque um, pode sempre e a qualquer momento, “por em xeque” os demais -. E ter esta noção e assumir esta responsabilidade é algo que deve ser intrínseco desde os primeiros momentos de vida maçónicos.
Já não é o Luis, o X ou o Y que fazem isto ou aquilo, serão os maçons Luis, X ou Y que o fazem… Logo é a Maçonaria na sua generalidade que será atentada com a má conduta que os seus membros possam ter para além da Ordem poder vir a ser acusada de cumplicidade pelos actos efectuados pelos seus membros.
Assumir que a nossa forma de estar e agir condiciona e se reflecte na Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons poderão tomar. Tanto que o dever de honrar a nossa Obediência, a nossa Loja e a Maçonaria em geral, deve encontrar-se permanentemente na mente de todos os maçons.
Um juramento implica obrigações, e jurar ser-se Maçon, mas fundamentalmente ser-se reconhecido Maçon pelos nossos iguais, implica que sejamos maçons a “tempo inteiro” e não apenas às segundas-feiras ou quintas-feiras de manhã ou à noite, ou quando nos dará mais jeito, é sempre!
Sermos maçons, não é quando visitamos a loja e usamos os respectivos paramentos. Não basta envergarmos um avental, calçar umas luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos” é muito mais que isto! É cumprir preceitos, rituais e trabalhar em prol da Ordem.
E se não estivermos prontos para tal, de nada valerão os juramentos que fizermos, porque nunca nos iremos comprometer com nada na realidade e em último caso, nem sequer reconhecidos como tal seremos.
E a palavra persistirá perdida…
Adaptado de autor desconhecido

MAÇONARIA UNIVERSAL .'. e S E C U L A R I S M O .'.

Maçonaria e Secularismo

secularismo é um conjunto de princípios legais baseados no primado da liberdade de consciência; não é uma arma contra as religiões, nem uma religião civil. A universalidade da lei comum não deve referir-se a nenhuma das várias religiões para se impor a todos os cidadãos. Uma loja maçónica é um lugar de aceitação da diferença, de pacificação de intercâmbios. Isto porque a Maçonaria considera que o secularismo é um princípio universal de pacificação social.
A oportunidade que nos é oferecida de questionar aqui as ligações entre a Maçonaria e o secularismo é particularmente bem-vinda.
Princípio emblemático da tradição republicana francesa, sacralizado pela Terceira República e considerado “intangível” até 1940, o secularismo é hoje o lugar de um profundo esquecimento e, no momento em que ele é perigosamente desafiado pelos “fanatismos” e intolerâncias, sejam eles culturais, políticos, económicos, religiosos, raciais, não é mais propriamente defendido e a pior das confusões reina em torno da noção…
Às vezes, o secularismo é confiscado a favor de um projecto identitário e usado como uma arma contra o Islão. Outras vezes, e ao contrário, pode dizer-se, ele é reduzido a um simples princípio de tolerância a serviço de um projecto multicultural de organização de designações identitárias. Ele é também apresentado como uma espécie de religião civil – aquela daqueles que não teriam nenhuma religião – quando não é visto como uma mera máquina de guerra contra convicções e sentimentos religiosos!… Cada um à sua maneira, todos estes discursos constituem tantas desnaturações do secularismo republicano.
É verdade que no nosso país a Maçonaria é sempre associada ao secularismo. Com as suas tomadas de posição vigilantes a cada suposta ameaça, ela seria até vista – sem trocadilho – como “guardiã do templo”! …

A inspiração das lojas

Desde os seus primeiros passos, a moderna Maçonaria desenvolve um pensamento universalista.  As Constituições de Anderson – o seu texto fundador – anunciam que ela se pretende tornar o “Centro da União, [permitindo] uma amizade sincera entre pessoas que poderiam ter permanecido a uma distância perpétua”, seja por razões políticas, religiosas ou nacionais.
A loja que trabalha neste “centro da união” é uma comunidade que implementa uma “fraternidade electiva” em busca do pluralismo social, político e religioso. Ela só pode existir e durar porque é soldada por rituais rigorosos e eficazes.
A Loja Maçónica em trabalho é também um método, uma disciplina que contraria toda a espontaneidade e se opõe a todas as inclinações naturais, para realizar uma mudança de estrutura mental para assegurar a superação de intercâmbios interpessoais em benefício da unidade da loja. É uma contracultura tradicional na qual os Maçons, protegidos pelo segredo dos seus intercâmbios, se tornam tantos “contrabandistas” heterodoxos.
O que esta contracultura propõe é, antes de tudo, o trabalho sobre si mesmo – os Maçons falam do seu “templo interior” que torna possível encontrar a unidade interior, reconciliar-se consigo mesmo, a condição primeira para poder para realmente abrir para os outros que eles aprenderam a ver como irmãos e, ao fazê-lo, trabalhar para a melhoria da humanidade – no “templo da humanidade” – Esta contracultura afirma-se como um continuidade espiritual, uma tomada de consciência da solidariedade universal.
Ela é o lugar de uma certa igualdade, marca de tolerância e de abertura. Em loja, aceitar a diferença do outro, aceitar a sua palavra e a respeitar é, para todo Maçon, um requisito absoluto. Mas a tomada em consideração desta alteridade é feita no âmbito de referências comuns que não podem ser transgredidas.
Com as suas ferramentas tradicionais de pacificação progressiva das relações, a Maçonaria é, portanto, uma espécie de laboratório de sociedade, laboratório do laço social que faz germinar naturalmente o princípio do secularismo.
Embora supervisionadas de perto, as lojas maçónicas foram, na sociedade política muito fechada do século XIX francês, as únicas associações activas toleradas e, portanto, naturalmente, os lares subterrâneos do essencial da vida intelectual e política do país. É por isto que, desde a capitulação de Sedan, a República surgirá toda armada de lojas. Léon Gambetta, e todos os Jules, Simon, Grévy, Favre e especialmente Ferry, para citar apenas estas eminentes personalidades da primeira geração republicana, todos vieram directamente das lojas.

A construção republicana do secularismo

A República tem por ambição uma construção permanente do laço cívico além das designações identitárias de cada um, na busca e preservação do que é comum a todos. No final do século XIX e início do século XX, a Maçonaria será participará verdadeiramente dos combates políticos para a construção do secularismo do Estado e as concepções que ela defenderá não serão diferentes daquelas que a República se vai dedicar a implementar.
O secularismo é um conjunto de princípios jurídicos baseados no primado da liberdade de consciência. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de Agosto de 1789, tem a religião por uma “opinião” como qualquer outra (Artigo 1.0), que surge, portanto, exclusivamente da liberdade de cada um. Isto necessariamente decorre da igualdade de todas estas opções espirituais aos olhos da lei e, portanto, a igualdade de todos os cidadãos, independentemente das suas opiniões ou religião. A universalidade da lei comum que não se deve referir a nenhuma das diferentes religiões para se impor ao conjunto dos cidadãos é indispensável.
O secularismo torna-se, assim, um princípio de organização social.  O poder público e a esfera a ele associada, com vistas a constituir, estabelecer e garantir os direitos e liberdades que beneficiarão a universalidade dos cidadãos, deve estar sujeitos a uma reserva absoluta em matéria de opções espirituais.
A esfera privada é a dos indivíduos e das comunidades, livre no respeito a lei.  Cada cidadão devem poder exercer estas liberdades individuais e privadas, que são as liberdades de consciência, de opinião religiosa ou outras – e da expressão, fora do domicilio privado, ao nível do espaço civil aberto a todos, no respeito ao direito comum e à ordem pública.
Ao mesmo tempo, o Estado garante a independência destas duas esferas e da unidade da comunidade política dos cidadãos em torno de valores comuns compartilhados.
Numa sociedade secular, o reconhecimento do direito de cada um construir e expressar a sua diferença é, portanto, sempre concebida num espaço de relacionamento, confronto e diálogo com os outros. Este comportamento representa, obviamente, um ideal difícil de construir e alcançar, que produziu no nosso país um modo de vida que é objecto de um consenso duradouro.
Ninguém precisa conhecer as escolhas filosóficas ou religiosas uns dos outros, elas pertencem-lhes. Ninguém precisa de as conhecer, especialmente o Estado, que se proíbe de os recensear. Aqui, novamente, a religião é entendida como uma escolha individual, uma opinião – que se pode mudar – e não como um pertencimento. O culto público, que é legítimo, é praticado em lugares que lhe são normalmente reservados  e isto traduz-se no nosso país pelo surgir gradual de uma cultura compartilhada da discrição das expressões religiosas na sociedade civil.
É a própria essência da tradição histórica e jurídica francesa que vê nessa discrição compartilhada a melhor maneira de garantir que todos tenham a oportunidade de viver juntos numa convivência serena e pacífica, baseada no respeito aos diferentes pensamentos.
Fundamentalmente, se o secularismo francês respeita todas as opções espirituais, é antes de tudo na medida em que elas são expressões da liberdade de consciência dos cidadãos. Assim, a República estará, sem dúvida, menos preocupada expressamente com o indivíduo cuja afiliação a uma comunidade é adquirida do que com o ateu, o agnóstico ou o crente individualista que rompe com o seu grupo, porque eles estão sozinhos e a sua liberdade precisa da protecção do Estado, que também deve ser capaz de proteger o direito de acreditar e de blasfemar.

Os desafios do presente

A construção republicana define-se pelo seu carácter universalista, do qual o secularismo é uma ferramenta essencial.. Actualmente, assistimos a um ressurgir de manifestações de afirmação identitária inspiradas na religião, mas que vão muito além das questões de culto, desafiando abertamente o secularismo e os princípios republicanos. E também observamos que a liberdade de consciência e a igualdade de todos recuam e não são mais garantidas em certos espaços privados.
No exacto momento em que, portanto, parece que o nosso secularismo constitucional devia, sem dúvida, ser exercido, além dos serviços públicos, na protecção do espaço social, “um lugar de compartilhamento sob o olhar dos outros”, em face de demandas urgentes de expressão religiosa, percebemos que o secularismo perdeu muito da sua força simbólica. O Estado republicano tem o dever de se envolver na defesa de projectos universalistas diante  ataques comunitaristas de certos grupos de pressão.
Como as lojas sabem fazer, a República deve esforçar-se para criar públicos comuns.  Ela deve saber lutar contra as discriminações com base na igualdade, apresentando o que é comum aos indivíduos e grupos sociais, e não através do reconhecimento identitário, que se fechará como uma armadilha implacável sobre o cidadão e os seus direitos.
Um estado neutro, sensível apenas à liberdade do cidadão individual é um modelo moderno e portador de progresso para o futuro. O seu instrumento fundamental é o secularismo, que por si só é capaz de impregnar um pensamento universalista da diversidade, livre da vulgata culturalista que actualmente se está a espalhar sem restrições alguma no debate político e na Comunicação Social. Ela aparecerá então como um princípio universal de pacificação social.
Jean-Philippe Hubsch
Adaptado de tradução feita por José Filardo