CRATOD – Centro de Referências, de Álcool Tabaco e outras
drogas
Rua Prates,165 Bom Retiro SP ,- fone: 011 – 3329.4455
CRATOD - Avenida Prates, 165 - Bom Retiro
O CRATOD - Centro de Referência de Atendimento a
Tabaco, Álcool e Outras Drogas, é um órgão do governo do Estado que tem por
finalidade atender e dar tratamento continuado a pessoas que tenham dependência
química.
Localizado na região da Luz, o CRATOD, está sob o comando da médica
psiquiatra e sanitarista dra. Luizemir Wolney Carvalho Lago, e passou a ser uma
referência na região devido à maneira diferenciada com que trata as pessoas que
ali chegam à procura de ajuda.
Criado através do decreto 46.860, de 25/06/02, o prédio estava em ruínas
e em 2004, o CRATOD passou por uma ampla reforma. Hoje, conta com 10 leitos de
observação, sendo 6 masculinos e 4 femininos, fornece 30 refeições diárias para
os tratamentos intensivos, ou seja, para os pacientes que permanecem o dia todo
no local em atendimento e 400 lanches para aqueles pacientes que participam em
meio período.
O CRATOD conta também com duas salas de dentistas equipadas com os mais
modernos aparelhos, onde é realizada a reabilitação oral às pessoas que estão
em tratamento de dependência química.
Há ainda um laboratório de próteses dentárias onde todas as próteses são
feitas e oferecidas gratuitamente aos pacientes.
O CRATOD também realiza oficinas de atividades diversas como artes,
educação física, artesanato, leitura, educação em saúde, teatro do oprimido e
outros recursos terapêuticos, como as psicoterapias individuais e em grupo.
Além disto dispõe de profissionais de psicologia, fisioterapia, atendimento
médico, orientação com nutricionistas, tudo para compor o processo de
recuperação do paciente.
CRATOD e Centro Legal
O paciente que participa do Programa Centro Legal chega ao CRATOD
através das equipes de abordagem de rua.
Primeiramente a pessoa encaminhada para o CRATOD é atendida por uma
equipe de enfermagem que faz uma avaliação geral e dependendo do caso, faz o
encaminhamento necessário para o indivíduo naquele momento e, na sala de
observação dependendo do caso, procede-se desde a higiene pessoal até a
internação. O paciente é encaminhado ao médico, que avalia sua condição de
saúde. Começa o processo de desintoxicação. Nesse momento, o paciente fica no
CRATOD em observação. Na maior parte das vezes os pacientes fazem tratamento
intensivo no CRATOD, isto é, passam o dia inteiro em tratamento e pernoitam em
albergues ou abrigos parceiros do CRATOD. Quando há risco de vida imediato o
paciente é encaminhado para internação, mas estes casos são raros.
A Dra. Luizemir está otimista e aliviada. "Com o Programa Centro
Legal vejo que o trabalho intenso que desenvolvemos aqui no CRATOD terá
continuidade. É muito difícil vermos pessoas que querem se recuperar da
dependência química, mas não tem nenhum apoio para continuarem o tratamento
simplesmente porque não têm para onde ir, acabam voltando para as ruas, para as
drogas. Agora isso mudou. Pela primeira vez, vejo que toda a rede social, tanto
municipal quanto estadual, está articulada. Essa é a melhor notícia que
podíamos ter."
Outras Drogas
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
COCAÍNA/CRACK
A cocaína (Erythoxylon coca), planta original da América do Sul,pode se
apresentar na forma de pó (cloridrato de cocaína), de uma pasta base de coca
(Merla, free base), diluída em água (cocaína injetável) e na forma de pedra
(crack).
Os diversos sub-produtos da coca diferem no que se refere às vias de
administração e tempo de absorção; a cocaína refinada (pó), quando aspirada, em
aproximadamente 15 minutos atinge o seu pico de ação e esta dura em torno de 45
minutos; já cocaína fumada atinge o pico de ação entre 10 a 15 segundos, porém
o efeito prazeroso desaparece em até 5 minutos o que leva o usuário a ficar
dependente com maior rapidez que as forma aspirada.
A "fissura", compulsão ou desejo incontrolável de consumir a
droga está mais presente e é avassaladora no crack e na merla pelo fato do
desaparecimento rápido do efeito prazeroso e o uso repetido para voltar a
sentir o efeito. Além da fissura, outros sinais e sintomas característicos da
síndrome de abstinência por cocaína-crack são o aumento da ansiedade,
inquietação, irritabilidade, diminuição da concentração, sintomas paranóides e
agitação psicomotora.
A cocaína age sobre três pontos do Sistema de Recompensa cerebral : o
tronco cerebral, o núcleo-acubens e sobre a região do córtex cerebral
pré-frontal, a mais importante de todas.
A paranóia que ocorre com a intensificação do uso da cocaína-crack com a
finalidade de aumentar os efeitos prazerosos, provoca muito medo, ansiedade,
comportamentos agressivos, em alguns casos delírios e alucinações. Esse quadro
é denominado " psicose cocaínica" .
A cocaína-crack tem ação direta sobre o músculo cardíaco, lesionando-o .
Outras complicação cardio-vasculares são: Morte súbita, arritimias,
miocardites, miocardiopatias, hipertensão arterial,infarto do miocárdio,etc.
Entre as complicações neurológicas decorrentes do uso crônico da
cocaína-crack temos: Neurológicas - 25 a 60 % dos acidentes são causados por
isquemias.
Complicações Musculares e Renais - Rbadomiólise- lesão no músculo
estriado - causa lesões renais, insuficiência renal aguda.
No aparelho respiratório - edemas pulmonares, necrose dos alvéolos,
hemorragia pulmonar. Pulmão de crack. Dispnéia, falta de ar, tosse
sanguinolenta que pode complicar para uma parada respiratória ou pneumotorax
Obstétrica - Complicações na gestação e parto. Parto prematuro.
Complicações respiratórias, baixo peso, "crack babies", agitação.
Comportamentos sexuais de risco - Prostituição, DSTs (HIV-AIDS).
Neuropsiquiátricos - danos no funcionamento cerebral principalmente nas
regiões orbito frontal, cingulado, ínsula e córtex frontal. O cérebro pode
levar de 6 meses a 1 ano para retornar ao nivel do funcionamento anterior, em
usuários crônicos. Mesmo após a interrupção o cérebro fica hipofuncionante.
A chegada do crack no Brasil ocorre nos anos 90, nessa época ocorrem as
primeiras apreensões em São Paulo e, nessa época, podia-se falar do perfil do
usuário como sendo, na maioria, do gênero masculino, adultos jovens, com baixa
escolaridade, que estavam desempregados ou em subempregos. Apresentavam um
padrão de uso mais grave (intenso), que estavam mais envolvidos com atividades
ilegais e a troca de sexo pela droga.
Após duas décadas o uso se disseminou entre as diferentes camadas
sociais, bem como surgiram os "subtipos" de usuários, o usuário
pesado que consome a droga em longos "binges" , em grupos que se
encontram em espaços destinados ao uso (crack houses), que apresentam uma
desorganização na condução de suas vidas no que se refere aos relacionamentos
interpessoais, trabalho, escolarização, relacionamento familiar; que se evolvem
mais em pequenos roubos, alguns trocam o sexo pela droga e fazem uso de outras
substâncias psicoativas como álcool, benzodiazepínicos, maconha na expectativa
de alívio dos sintomas de abstinência (são os poliusuários).
O usuário mais controlado é outro subtipo; é aquele que se sente no
controle do seu consumo, que já se engajaram em algum tipo de tratamento e que
não obtiveram sucesso na abstinência, mas aprenderam estratégias de redução do
consumo e de danos, já são adultos mais velhos, ganharam alguma autonomia,
obedecem a rotinas e mantém relações profissionais mais estáveis. O uso de
álcool e maconha ainda está muito presente.
Referências
- Laranjeira R -
coordenador - Usuários de Substâncias Psicoativas, Abordagem, Diagnóstico
e Tratamento. CREMESP/AMB, 2ª edição 2003
- Laranjeira, R e
Marcelo Ribeiro - O tratamento de usuários de crack, INPAD, São Paulo,2009
- CEBRID- Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas-Departamento de
Psicobiologia da Unifesp-Universidade Federal de São Paulo - Escola
Paulista de Medicina - Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrópicas,
OBID, 2003
- Kessler, F e
Flávio Pechansky, Uma visão psiquiátrica sobre o fenômeno do crack na
atualidade.Rev.Psiquiatria RS,2008,30(2) 96-98.
- Kessler, F. ET
AL, Crack - da pedra ao tratamento, Revista da AMRIGS, porto Alegre,54(3):
337-343, jul-set 2010.
Álcool
O comprometimento à saúde gerado pelo uso indevido de bebidas alcoólicas
segue algumas etapas clássicas: sensibilização, uso abusivo, dependência.
A sensibilização acontece na juventude, quando beber, e beber muito,
significa aceitação pelo grupo, popularidade, poder. Os estudos mostram que
quanto mais jovem o indivíduo no momento que se expõe a substâncias
psicoativas, entre elas, a principal é o álcool, tanto pior o prognóstico para
o desenvolvimento de uma dependência. Isto pode ser compreendido no plano
psicológico, pois o indivíduo aprende a reagir sempre da mesma forma diante de
qualquer estímulo do meio. Isto é, seja o estresse maior ou menor, agradável ou
desagradável, a resposta do indivíduo será sempre buscar o álcool - ou outra
droga - para obter alívio de seu desconforto. Assim, o jovem não aprenderá a se
conter quando oportuno, a brigar quando necessário, a argumentar nas suas
relações pessoais e profissionais. Apenas saberá alterar seu vínculo com os
fatos da vida através da ingestão de álcool. De forma correspondente, no plano
biológico, ocorre uma mudança estrutural nas células e na comunicação entre
elas, sem o desenvolvimento natural de outras vias de transmissão da mensagem,
repetindo sempre o mesmo circuito.
O hábito de beber é incentivado através de propaganda, filmes e grupos
que não têm alternativa para o lazer. O uso abusivo pode durar muitos anos, e a
mudança deste estado para a dependência ocorre de forma tão sutil, que passa
despercebida.
O fígado humano é capaz de metabolizar uma determinada quantidade de
álcool por hora, com este conhecimento, já se sabe que o homem adulto, consegue
metabolizar até três doses de álcool num dia; e a mulher adulta, cerca de duas
doses. Isto, considerando um homem e uma mulher de tamanhos médios; e cada dose
se refere a um copo/cálice/lata determinado para cada bebida alcoólica.
Portanto, a dependência do álcool, ou o alcoolismo é uma doença
adquirida pela repetição de um hábito. Trata-se de uma doença crônica, porque
consiste de uma alteração fisiopatológica que, depois de instalada, é
irreversível, podendo ocorrer recaídas mesmo após longos períodos de
abstinência. Esta doença consiste de busca compulsiva e incontrolável, em que o
uso do álcool persiste apesar das conseqüências negativas para o indivíduo.
Para se estabelecer a suspeita de dependência de álcool, algumas
perguntinhas básicas (teste CAGE) são fundamentais:
1. Alguma vez o (a) Sr. (a) sentiu que deveria diminuir a quantidade de
bebida ou parar de beber?
2. As pessoas o (a) aborrecem porque criticam o seu modo de beber?
3. O (A) Sr. (a) se sente culpado (a) (chateado consigo mesmo) pela
maneira como costuma beber?
4. O (A) Sr. (a) costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou
a ressaca?
No caso de duas respostas afirmativas, o uso de álcool é considerado de
risco, mas ainda não é um diagnóstico, que só será firmado por um profissional
especializado.
O grau de intoxicação varia conforme dois fatores; a quantidade de
bebida ingerida e o tempo decorrido desde a ingestão. O pico de concentração
sanguínea máxima é atingido entre 30 e 90 minutos, e é retardada pela ingestão
concomitante de alimentos.
As bebidas alcoólicas são eliminadas do organismo de forma complexa: até
10% do álcool ingerido é excretado de forma inalterada pelo suor e pela urina.
A maior parte, até 90%, é metabolizada no fígado na primeira etapa para a forma
de acetaldeído, responsável por aquele hálito característico, chamado
tecnicamente de hálito cetônico. Esta substância resultante é metabolizada em
segunda etapa pela enzima aldeído desidrogenase.
O fígado, em média, só consegue metabolizar 10ml de álcool por hora,
enquanto isto o álcool continua em circulação por todo o corpo inclusive o
cérebro, provocando os seguintes sintomas em ordem de menor para maior gravidade:
euforia e excitação; alterações da atenção; alterações da coordenação motora;
labilidade emocional; seguidos de piora de todas estas alterações; náuseas e
vômitos; amnésia; baixa da temperatura corporal; anestesia; coma e morte.
No passado, era comum acontecer de pessoas intoxicadas procurarem os
pronto-socorros e receberem glicose na veia. Este conceito já caiu em desuso,
pois este procedimento pode causar prejuízos ainda maiores ao cérebro. O que se
sabe, com certeza, é que qualquer quantidade de álcool diminui a vitamina B1
(tiamina) do organismo, e que, no caso de grandes ingestões de bebidas
alcoólicas, é importante repor esta carência para proteger todo o sistema
nervoso dos prejuízos causados pelo álcool ingerido em grandes quantidades.
Quando a dependência de álcool está adiantada, pode surgir um quadro de
sintomas chamado de Síndrome de Abstinência Alcoólica. Para diferenciar os
conceitos, é importante esclarecer que a palavra Abstinência isoladamente,
significa o ato de abster-se, de privar-se do uso de alguma coisa ou ainda a
privação voluntária dos desejos sexuais, seja por preceitos religiosos, em
busca do aprimoramento moral ou espiritual, seja a privação, voluntária ou não,
de substâncias tais como álcool, heroína. Por outro lado, a Síndrome de
Abstinência é um quadro grave e agudo, que se inicia cerca de 6 a24h após a
diminuição ou a suspensão do consumo de bebidas alcoólicas, compromete todo o
metabolismo da pessoa, caracteriza-se por um conjunto de sintomas, e nem todos
podem estar presentes:
- agitação;
- ansiedade;
- alterações de
humor (como irritabilidade ou depressão);
- tremores;
- náuseas;
- vômitos;
- taquicardia;
- hipertensão
arterial;
As convulsões são outra complicação do uso abusivo e crônico de bebidas
alcoólicas e costumam ser do tipo Grande Mal, isto é, tônico-clônicas, quando a
pessoa fica com a musculatura rígida, cai, para em seguida passar a se debater.
Na maior parte das vezes são episódios isolados e podem ocorrer nas primeiras
quarenta e oito horas após a suspensão da substância (mais freqüentemente entre
13 e 14 horas). Uma vez sensibilizado o cérebro, o risco de a convulsão ocorrer
novamente em seis meses é de 41%, e em três anos é de 55%.
A Síndrome de Abstinência Alcoólica pode se complicar pelo Delirium
Tremens, que, como o nome diz, associa um estado toxi-confusional em que
aparece o delírio vívido, com tremores e outras alterações somáticas. Neste
caso, a pessoa corre grave risco de vida e deve ser tratada num pronto socorro
com recursos clínicos. Ocorre em menos de 5% dos dependentes de álcool quando
suspendem o uso, com piora significativa no começo da noite. Os pacientes
apresentam vivência delirante, com fala incoerente, demonstram sofrer
alucinações visuais e outras distorções da percepção da realidade. Também
acompanham agitação; ansiedade; alterações do humor; tremores; náuseas,
vômitos; freqüência cardíaca e pressão arterial aumentadas.
Exames de detecção do álcool no organismo:
Para as pessoas que consomem bebidas alcoólicas de forma esporádica, o
intervalo de tempo para detecção na urina é de 6 a 48 horas. Até 30 minutos da
ingestão ainda não há eliminação de álcool pela urina.
Na circulação do sangue o álcool atinge a concentração máxima entre 30 a
90 minutos. A dosagem da concentração de álcool no sangue - (CAS) ou alcoolemia
- costuma ser usada apenas como teste de confirmação.
No bafômetro a concentração de álcool no ar expirado é medida por uma
fonte infravermelha, lembrando que até 10% do álcool no organismo é eliminado
desta maneira.
Por outro lado, estas dosagens podem ser muito diferentes para as
pessoas que consomem bebidas alcoólicas com muita freqüência, porque o
metabolismo está alterado: a eliminação total do etanol se faz num período
máximo de 48 horas. Nestes casos é importante realizar exames complementares
para verificar o grau de desequilíbrio metabólico do paciente.
Referências
- pubs.niaaa.nih.gov/publications/aa63/aa63.htm
- Maciela C, Kerr-Corrêa
F - Psychiatric complications of alcoholism: alcohol withdrawal syndrome
and other psychiatric disorders -Instituto de Educação Continuada da PUC
Minas e FATEC - MG; Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp - Rev Bras
Psiquiatr 2004;26(Supl I)
- http://www.ualberta.ca/~kgtodd/
- van den Brinka W, van Reeb J M.
Pharmacological treatments for heroin and cocaine addiction - European
Neuropsychopharmacology 13 (2003) 476-487
www.elsevier.com/locate/euroneuro
- Laranjeira R,
Nicastri S, Jerônimo C, Marques AC. Consenso sobre a Síndrome de
Abstinência do Álcool (SAA) e o seu tratamento
http://www.alcoolismo.com.br/deli.htm
- Laranjeira R -
coordenador - Usuários de Substâncias Psicoativas, Abordagem, Diagnóstico
e Tratamento. CREMESP/AMB, 2ª edição 2003